Folha de S. Paulo


Países da Primavera Árabe têm piores direitos para mulheres, diz pesquisa

Três dos cinco países que tiveram marcantes crises políticas durante a Primavera Árabe nos últimos três anos constam entre aqueles com os piores direitos femininos, de acordo com pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Fundação Thomson Reuters.

Enquanto o Egito ocupa a pior posição (22º), Síria e Iêmen aparecem respectivamente em 19º e 18º lugares, com melhores resultados apenas em comparação à Arábia Saudita e ao Iraque, além do Egito.

Líbia (9º) e Tunísia (6º), por sua vez, tiveram uma melhor avaliação, na pesquisa que levou em consideração questões como casamento infantil, leis relativas ao estupro e a educação entre as mulheres.

Editoria de Arte/Folhapress

Especialistas ouvidos pela fundação apontam, entre as razões para as violações aos direitos femininos nesses países, as estruturas políticas patriarcais e a ascensão de movimentos islamitas ao poder --contrariando a vocação universal da insurgência, em que as mulheres tiveram papel fundamental nas ruas.

Entre os pontos positivos nos últimos anos foi apontada a maior consciência entre as mulheres de seus direitos, deixando de ver a questão como reservada à elite intelectual do país.

A pesquisa foi realizada em agosto e setembro deste ano, ouvindo 336 especialistas em questões de gênero, a partir das recomendações da ONU para a eliminação da discriminação contra as mulheres.

A má colocação do Egito surpreendeu observadores, conforme esse país norte-africano teve pior desempenho do que a Arábia Saudita, em que mulheres precisam de autorização de um "guardião" masculino para seus afazeres e são proibidas de dirigir.

"Esse resultado foi uma surpresa para nós", diz à Folha Monique Villa, diretora-executiva da fundação. "Sabíamos que as coisas estavam difíceis no país, mas não a esse ponto."

A avaliação egípcia foi prejudicada especialmente pelo assédio sexual. Um relatório recente das Nações Unidas aponta que até 99,3% das mulheres no Egito estão sujeitas a essa prática.

A situação na Tunísia também surpreendeu, apesar da boa avaliação. "Antes da revolução, a situação era melhor. As mulheres representavam parte da vanguarda", afirma Villa.

A melhor colocada na pesquisa da fundação foi Comores, um arquipélago no oceano Índico. Os resultados nesse país foram positivos, exceto no quesito "representação política". As mulheres, ali, ocupam apenas 3% dos assentos no Parlamento. Por outro lado, metade dos prisioneiros no país foram detidos por agressão sexual.

Esta é a primeira vez em que a Thomson Reuters produz um estudo focado nas mulheres do mundo árabe. Não há, portanto, comparação com anos anteriores.


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