Folha de S. Paulo


Após escândalo de espionagem, delegação de empresários americanos chega ao Brasil

Chega nesta terça-feira a Brasília a primeira grande missão de empresários americanos desde o desgaste ocorrido pelo escândalo da espionagem americana e pelo cancelamento da visita de Estado da presidente Dilma a Washington, em setembro.

Os executivos de 27 grandes empresas americanas, todas do Conselho Empresarial Brasil-EUA, fazem parte da missão anual organizada pela poderosa Câmara Americana de Comércio. Vários ministérios serão visitados.

A delegação quer mostrar que o empresariado americano vê o Brasil como "parceiro de longo prazo" e servir como "ponte" em um momento em que as relações entre os governos é considerada "gélida", segundo empresários ouvidos pela Folha.

O setor de Defesa é o que tem a maior representação, com Lockheed Martin, Raytheon e Boeing, entre outras, repetindo uma missão exclusiva da área de equipamento militar feita ao Brasil em abril, com 13 empresas.

Setores de energia, tecnologia, farmacêutico e alimentação também estão na delegação, com representantes de empresas como Coca-Cola, Cargill, Exxon, Westinghouse, Eli Lilly, Shell e Qualcomm.

A comitiva está mais enxuta --no ano passado, foram 25 empresas e 52 executivos; em 2011, coincidindo com a visita do presidente Obama à presidente Dilma, 33 empresas foram representadas. Desta vez, serão 32 executivos de 27 empresas.

"A visão do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos é de um relacionamento de longo prazo entre os dois países que tenha na comunidade empresarial o seu motor propulsor", disse à Folha a presidente da Boeing do Brasil, a ex-embaixadora americana Donna Hrinak, que lidera a missão.

"Entre os tópicos que o conselho irá discutir estão ferramentas que podem contribuir para que este relacionamento avance ainda mais, como, por exemplo, um acordo de não bitributação e a facilitação do fluxo de pessoas entre os dois países", disse.

REFORMAS CERTAS

O Conselho Empresarial Brasil-EUA da Câmara Americana de Comércio tem 112 membros e foi criada há 38 anos. Só os membros podem participar da missão.

Justamente nas últimas semanas, aumentou o número de críticas ao Brasil vindas do empresariado americano --sem relação com o escândalo da espionagem, mas criticando o chamado intervencionismo estatal brasileiro ou mesmo a queda do empresário Eike Batista.

No mês passado, o presidente do maior fundo de investimentos do mundo, Pimco, Mohamed El-Erian, disse em Nova York que "ao contrário do México", que estava fazendo as reformas "certas", o Brasil "estava de volta aos seus velhos hábitos" de intervenção.

Na semana passada, a revista britânica "The Economist" dizia que a reputação do Brasil tinha sido atingida pela derrocada do império de Eike.

"Dá a impressão que o país é um tanto esquisito", disse à Economist Mark McHugh, do banco de investimentos especializado em energia OFSCap.


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