Folha de S. Paulo


Paralisação dos EUA pode prejudicar republicanos

O Partido Republicano saiu chamuscado da paralisação do governo dos EUA, o que aumenta a possibilidade de os democratas, partido do presidente Barack Obama, retomarem o controle da Câmara nas eleições legislativas do ano que vem.

Hoje, o Senado dos EUA é controlado pelos democratas, e a Câmara, pelos republicanos. A Câmara, com sua estridente minoria do Tea Party, tem frustrado boa parte das iniciativas legislativas do governo Obama.

Tea Party culpa moderados do partido por fiasco

Os radicais do Tea Party foram os principais defensores da intransigência que levou à paralisação de 16 dias do governo americano e consequente prejuízo de US$ 24 bilhões, segundo estimativa da agência Standard & Poor's.

Editoria de Arte/Folhapress

Eles ameaçaram conduzir o país para o calote caso democratas não aceitassem reverter vários pontos da lei de reforma da saúde, a chamada "Obamacare". A extorsão não funcionou, e os republicanos foram pressionados a recalcular a rota de forma humilhante.

Pesquisa "USA Today"/Princeton Survey Research mostra que 29% dos eleitores acham que os republicanos são culpados pela paralisação do governo, 12% culpam os democratas e 54% responsabilizam os dois partidos.

Segundo pesquisa "Washington Post"/ABC também desta semana, 53% dos eleitores culpam os republicanos pela paralisação do governo, e apenas 29% responsabilizam o presidente Obama.

Para analistas, essa reprovação dos eleitores ao comportamento do Partido Republicano aumenta as possibilidades de os democratas retomarem o controle da Câmara, algo impensável até pouco tempo atrás.

Segundo pesquisa da CNN nesta semana, 50% dos eleitores registrados para votar dizem que pretendem votar em um candidato democrata na eleição legislativa do ano que vem, diante de 42% em um republicano (4% não vão votar, 2% não têm candidato, 2% outras respostas).

A margem de vantagem, de oito pontos percentuais, é igual à margem de voto popular necessária para os democratas retomarem o controle da Câmara -estimada em de seis a oito pontos.

BATALHA ÁRDUA

Alguns analistas, no entanto, acham que essa vantagem no voto popular não é uma boa maneira de prever o resultado das eleições, disputadas distrito a distrito.

E se trata de uma batalha árdua. "Apesar de a situação ter melhorado, ainda será difícil os democratas retomarem a maioria na Câmara: em geral, o partido que está na Presidência tem desempenho pior na eleição legislativa", disse à Folha Kyle Kondik, editor do Sabato's Crystal Ball, centro de análises políticas da Universidade da Virgínia.

Segundo Kondik, seria "inédito na história" um partido que está na Casa Branca tirar da oposição 17 vagas na Câmara, número que daria a maioria aos democratas.

Muitos acreditam que o "efeito paralisação" não vai durar até a eleição do ano que vem. "Houve consequências negativas para os republicanos, mas não está claro quanto vai durar essa virada na opinião pública", disse à Folha John Sides, professor de ciência política na Universidade George Washington.

Para grande parte dos analistas, tudo depende da capacidade dos republicanos de repetir as trapalhadas dos últimos meses.

O líder da minoria no Senado, o republicano Mitch McConnell, afirmou que seu partido não deixará o governo chegar de novo a uma paralisação na próxima negociação do Orçamento e da elevação do teto da dívida, que vai ocorrer em alguns meses.

Mas o senador Ted Cruz, um dos líderes do Tea Party, não parece contrito. "Vou continuar fazendo de tudo para impedir esse trem desgovernado que é a lei de saúde de Obama", disse.


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