Folha de S. Paulo


Cuba anuncia processo para unificar moedas; data, contudo, não foi divulgada

Sem detalhes ou prazo, Cuba anunciou ontem o início de um dos mais complexos passos para reformar a economia comunista e sair da crise econômica: convergir gradualmente em uma só as duas moedas que circulam na ilha desde 1994.

O processo excluirá "a utilização de terapias de choque e o desamparo de milhões de pessoas", promete o comunicado do governo, citando palavras do ditador Raúl Castro.
O anúncio apareceu no jornal oficial "Granma" ontem.

Atualmente circulam em Cuba duas moedas: o peso cubano (CUP), com o qual a maior parte da população recebe seus salários e paga por produtos e serviços básicos, equivalente a US$ 0,04 (R$ 0,086); e o peso conversível (CUC), moeda forte equiparada ao dólar (R$ 2,17), que compra tudo o mais, de roupa a acesso à internet.

Alejandro Ernesto/Efe
Em Havana, homem segura uma nota de 20 pesos cubanos (acima) e outra de 20 pesos conversíveis; dualidade acabará
Em Havana, homem segura uma nota de 20 pesos cubanos (acima) e outra de 20 pesos conversíveis; dualidade acabará

O sistema dual criou, na prática, "duas grandes classes" em Cuba: os que têm acesso à moeda forte (em geral quem trabalha no turismo ou recebe dinheiro de parentes no exterior) e os que não têm e fazem de tudo para obtê-la --de bicos a vender artigos no mercado negro.

A dualidade também amplifica distorções na contabilidade governamental e nas empresas estatais e mistas (com sócios estrangeiros).

Por causa disso, é uma das mais esperadas "reformas" de Raúl, o irmão de Fidel Castro que assumiu o poder em 2008 prometendo "atualizar" o modelo socialista.

Como ainda não se sabe o ritmo da unificação, é difícil prever impactos na economia --em processos do tipo, que embutem desvalorização da moeda, um dos efeitos pode ser a alta da inflação.

Segundo a agência de notícias Reuters, economistas cubanos estimam que o processo pode levar 18 meses.

EMPRESAS PRIMEIRO

Em seu comunicado, o governo anuncia que a reforma cambial começará no setor empresarial e produtivo.

No país em que a maior parte da economia está nas mãos do Estado, que também fixa os preços, as empresas têm de trocar dólares e CUCs por pesos cubanos (CUPs) na taxa de um a um, enquanto nas casas de câmbio estatais, para pessoas físicas, a taxa é um CUC equivale a 25 CUPs.

O esquema já começou a mudar de maneira experimental em alguns setores exportadores, como o açucareiro. Agora, se a empresa açucareira exportar US$ 1 milhão vai receber do governo 12 milhões de pesos cubanos, e não mais apenas 1 milhão. O reforço de caixa está sendo usado para investimentos.

A reforma mexe com as expectativas populares. A blogueira dissidente do regime, Yoani Sánchez, comentou no Twitter: disse que o fim do "esquizofrenia econômica" "é uma das demandas de mudança mais popular entre os cubanos".


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