O governo dos Estados Unidos deve acabar com o "sigilo" dos ataques com aviões teleguiados (drones) no Paquistão e julgar os responsáveis pelas ações "ilegais", afirma um relatório da Anistia Internacional divulgado em Islamabad, capital do país.
"O sigilo que cerca o programa dos drones concede ao governo americano um direito de matar superior aos tribunais e às normas fundamentais do direito internacional", afirmou Mustafa Qadri, analista da organização de defesa dos direitos humanos.
A AI investigou dois ataques realizados no ano passado, na região do Waziristão Norte, refúgio de membro da Al Qaeda. Dezoito civis, incluindo uma criança de 14 anos, e Mamana Bibi, 68, morreram em julho e outubro, respectivamente.
No primeiro caso, foram duas investidas dos aviões não tripulados. A primeira matou pelo menos oito pessoas, e a segunda tinha como alvo os que tentavam resgatar os feridos.
"Os corpos estavam dilacerados", de acordo com uma testemunha. "Nós entramos em pânico, e cada um correu para uma direção diferente".
Sobre o ataque a Bibi, que estava acompanhada de seus cinco netos, o relatório afirma que os motivos não são claros. A visibilidade dos operadores dos drones no momento era boa, o que reforça a tese de que o grupo não foi alvejado por engano.
As cinco crianças ficaram feridas. Safdar, 3, caiu do telhado e fraturou costelas e ossos dos ombros.
"Pessoas que, claramente, não oferecem nenhum risco aos EUA estão sendo mortas. O país precisa apresentar as justificativas para essas mortes", continuou Qadri.
Desde 2004, entre 2.000 e 4.700 pessoas --incluindo centenas de civis-- segundo diferentes avaliações, morreram em quase 300 ataques de drones americanos nas zonas tribais do noroeste do Paquistão, principal reduto dos talebans e de outros grupos vinculados à Al-Qaeda na fronteira com o Afeganistão.
A divulgação do relatório coincide com uma visita do primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Shari, aos Estados Unidos.