Folha de S. Paulo


Vaticano beatifica 522 religiosos mortos na Guerra Civil espanhola, em meio a polêmica

O Vaticano beatificou hoje, em Tarragona, 522 religiosos espanhóis mortos durante a guerra civil espanhola (1936-1939). Mais de 20 mil pessoas participaram da maior cerimônia já ocorrida de beatificação - último passo antes da canonização. Entre os participantes, 4.000 eram parentes dos agora beatos.

A cerimônia é polêmica. Nos dias que a antecederam, grupos laicos instaram as autoridades eclesiásticas a pedir perdão por ter apoiado a ditadura franquista e o golpe de Estado de 1936. Associações de vítimas da ditadura espanhola classificaram o evento como "um ato político de inspiração franquista".

Mesmo dentro da Igreja, setores mais progressistas temiam que a beatificação pudesse reabrir feridas da ditadura e se queixaram do fato de só uma parte das vítimas da guerra ser lembrada.

Atendendo ao pedido da Conferência Episcopal Espanhola, os participantes se abstiveram de levar bandeiras e cartazes. Ao invés de se referir ao contexto político da década de 1930, os bispos preferiram classificar os agora beatos como "mártires do século 20".

A cerimônia foi presidida pelo cardeal e prefeito da Congregação pelas Causas dos Santos, Ángelo Amato, que descreveu os beatos como "vítimas", "homens e mulheres pacíficos", que "não odiavam a ninguém, amavam a todos e faziam o bem a todos". Em mensagem de vídeo de três minutos, o papa Francisco comparou os religiosos a Jesus Cristo e fez referência direta à guerra civil.

No começo da década de 1930, o rei Afonso 13º tentou resgatar o regime parlamentar e constitucional. Uma Assembleia Constituinte instituiu a separação entre Igreja e Estado na Espanha. A partir de 1931, grupos anarquistas fazem ataques a igrejas. Em 1936, quando a esquerda chega ao poder, ocorre um golpe militar, apoiado pela Igreja, e tem início uma guerra civil de três anos.

Durante essa guerra civil, foram destruídas cerca de 20 mil igrejas. Ao final da guerra, vencida por grupos pró-fascistas, o país foi governado até 1975 pela ditadura de Francisco Franco.

Religiosos mortos durante a guerra civil vêm sendo beatificados em grandes grupos. Em 2001, o papa João Paulo 2º beatificou 233 deles. Em 2007, o papa Bento 16 beatificou outros 498. Com os 522 atuais, a Igreja já beatificou 1.253 religiosos mortos no período.


Endereço da página: