Folha de S. Paulo


Chefe do Parlamento iraniano diz querer negociar excedente de urânio

O Irã admite ter mais urânio enriquecido do que o necessário e está disposto a negociar com o Ocidente uma maneira de se desfazer desse excedente, segundo disse nesta quarta-feira Ali Larijani, um dos mais homens mais poderosos da república islâmica.

A possível concessão aventada por Larijani, presidente do Parlamento e ex-negociador nuclear, surge às vésperas da próxima rodada de negociações sobre o dossiê atômico iraniano, na próxima semana, em Genebra, que testará boas intenções sinalizadas por Teerã e Ocidente.

"Temos algum excedente, sabe, aquela quantidade que não precisamos. Mas podemos ter algumas discussões sobre isso", disse Larijani em entrevista à Associated Press em Genebra, onde participa de encontro mundial de parlamentares.

Ele se referia ao estoque de urânio enriquecido a 20% acumulado pelo Irã, atualmente ao redor de 140 kg. Em tese, seriam necessários ao menos 260 kg numa pureza superior a 90% para fabricar uma ogiva atômica. Não está claro qual quantidade Teerã considera excedente.

O Irã nega categoricamente planos de construir a bomba e alega enriquecer urânio para fins medicinais e energéticos, em conformidade com tratados internacionais de não proliferação nuclear.

A declaração de Larijani indica que Teerã pode aceitar se desfazer de parte de seu estoque de urânio altamente enriquecido como parte de um eventual acordo com as potências.

Segundo o "Wall Street Journal", o Irã oferecerá em Genebra a diminuição do grau de pureza do enriquecimento de urânio e o fechamento da central nuclear de Fordow, construída debaixo de uma montanha no centro do país para proteger as centrífugas de eventuais bombardeios.

O novo presidente iraniano, o ex-negociador nuclear Hasan Rowhani, se disse disposto a fazer concessões, desde que o Ocidente se comprometa a levantar sanções ao programa nuclear que emperram a economia iraniana.

Desde sua eleição, em junho, Rowhani vem multiplicando acenos ao Ocidente, que ecoaram em boa parte do Ocidente. Expectativas de um acordo aumentaram depois que o presidente iraniano conversou ao telefone com o colega americano, Barack Obama, às margens da Assembleia Geral da ONU, há duas semanas.

Mas os dois presidentes enfrentam oposição interna de segmentos que rejeitam normalizar relações Irã-EUA, rompidas há 34 anos.

Num sinal da pressão sobre a equipe de Rowhani, o chanceler Mohamad Javad Zarif relatou ontem ter ido parar no hospital por um ataque de estresse depois que um jornal ultraconservador divulgou que ele teria chamado de "erro" o telefonema entre os dois presidentes. Zarif negou ter criticado o presidente.


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