Folha de S. Paulo


Greenpeace diz que ativistas estão presos em solitárias e em celas "extremamente frias" na Rússia

Parte dos 28 ativistas do Greenpeace e dos dois jornalistas detidos na Rússia que aguardam indiciamento por pirataria estão sendo mantidos em cela solitária por 23 horas por dia e outros estão em celas "extremamente frias", segundo Kumi Naidoo, o diretor executivo do Greenpeace International.

Naidoo disse ao "Guardian" que os membros do grupo foram divididos entre várias prisões na cidade portuária de Murmansk, no noroeste da Rússia, que fica dentro do Círculo Ártico. Três pessoas do grupo foram enviadas para uma prisão a 150 km de distância.

Naidoo disse que a organização terá que levar em consideração o tratamento dado aos prisioneiros, mas que o Greenpeace não foi silenciado por intimidação no passado e vai continuar a demonstrar "liderança" na questão ártica.

Mandel Ngan/AFP
Manifestantes fizeram vigília, em Washington, em favor dos ativistas do Greenpeace presos na Rússia por pirataria
Manifestantes fizeram vigília, em Washington, em favor dos ativistas do Greenpeace presos na Rússia por pirataria

Vigílias foram promovidas no fim de semana em vários lugares do mundo para pedir a libertação dos "30 no Ártico". Celebridades, incluindo o ator Jude Law e o músico Damon Albarn, se juntaram a estimadas 800 pessoas que se reuniram diante da embaixada da Rússia em Londres.

Originários de 18 países, sendo seis deles britânicos, os ativistas foram detidos depois de a guarda costeira russa ter apreendido sua embarcação, depois de protesto que fizeram em setembro contra uma plataforma petrolífera da Gazprom no Ártico, a primeira perfuração marítima da Rússia no mar de Barents.

Naidoo afirmou: "Alguns dos colegas estão em celas quentinhas e razoavelmente ok,... mas alguns estão em celas extremamente frias. Estamos falando do Ártico."

Embora vários dos ativistas estejam em celas nas quais conseguem interagir uns com os outros, Naidoo falou que alguns deles "estão em solitária, passando 23 horas na cela e tendo uma hora para fazer exercício".

Naidoo disse que não crê que a divisão dos ativistas tenha sido feita com intenção de prejudicá-los e que ele está grato porque todos puderam ter encontros com representantes consulares.

Uma das britânicas detida é Alexandra Harris, identificada juntamente com o videomaker Kieron Bryan, Philip Ball, Anthony Perrett, Frank Hewetson e Iain Rogers. Harris adoeceu no início deste mês e foi levada a um hospital para ser examinada, mas não precisou de tratamento. Naidoo disse que foram tomadas medidas para que ela fosse medicada. O outro jornalista é um fotógrafo russo, Denis Sinyakov.

De acordo com tribunais russos, os ativistas do Greenpeace estão sendo detidos por dois meses antes de irem a julgamento e serão acusados de pirataria, acusação passível de punição com até 15 anos de prisão. "A detenção sem julgamento é reconhecidamente injusta e inaceitável", disse Naidoo.

Dmitri Sharomov/Efe
A brasileira Ana Paula Maciel em cela na Rússia
A brasileira Ana Paula Maciel em cela na Rússia

O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu recentemente a ação da guarda costeira, dizendo que ela não teria podido saber quem eram os ativistas do Greenpeace que abordaram a plataforma petrolífera, mas ressalvou: "Não estou a par dos detalhes do que aconteceu, mas é completamente óbvio que eles não são piratas".

Naidoo disse que a reação intransigente das autoridades russas, que permitiram uma operação semelhante do Greenpeace em 2012 sem fazer detenções, não o fará descartar ações futuras na Rússia.

"Vamos ter que levar em conta os fatos acontecidos. Teremos que pensar sobre os tipos de ações que faremos no futuro. Como organização, nunca nos deixamos silenciar pela repressão movida por governos. Se queremos salvar o Ártico, prevenir mudanças climáticas catastróficas e resistir a inação da parte de governos que deveriam estar assumindo a liderança, vamos fazê-lo."

Tradução de Clara Allain


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