Folha de S. Paulo


Argentina e Uruguai voltam a entrar em conflito por fábrica de celulose

Argentina e Uruguai voltaram a entrar em conflito por causa da fábrica de pasta de celulose UPM (ex-Botnia). O Uruguai quer que a UPM amplie sua produção e a Argentina é contra por temer danos ambientais à região.

A UPM, de origem finlandesa, foi inaugurada em 2007 com um investimento de US$ 1,2 bilhão (R$ 2,64 bilhões). Ela está instalada na cidade de Fray Bentos, no Uruguai, às margens do rio Uruguai, que tem administração compartilhada por ambos os países.

David Fernández/Efe
Cristina Kirchner e José Mujica, em evento em Buenos Aires, na segunda (30); países voltam a enfrentar conflito por fábrica
Cristina Kirchner e José Mujica, em evento em Buenos Aires, na segunda (30); países voltam a enfrentar conflito por fábrica

O governo de Cristina Kirchner entendeu que o Uruguai já estava com tudo acertado para permitir que a papeleira aumentasse sua produção e enviou um recado: estaria disposto a recorrer novamente ao Tribunal Internacional de Haia por causa da fábrica.

Mujica visitou na segunda à noite Buenos Aires para participar da inauguração de um novo barco Buquebus, que liga a capital argentina a Montevidéu. Em público, os mandatários trocaram algumas declarações sobre o caso.

"Jamais devemos cometer o erro de que nossas contradições nos separem das questões essenciais", afirmou o presidente uruguaio. E completou: "O rio [Uruguai] que nos separa também nos une".

"Temos divergências, podemos ter discrepâncias, mas todos presidentes da região têm entendido que a unidade é o único caminho para continuar crescendo em paz", disse Cristina.

Nesta terça à tarde, os chanceleres Héctor Timerman, da Argentina, e Luís Almagro, de Uruguai, se reunirão em Buenos Aires com suas respectivas comitivas para tentar chegar a uma solução. "O diálogo está totalmente aberto", afirmou Timerman. O embaixador argentino no Uruguai, Dante Dovena, disse ao "El País" que há "vontade de um acordo"

HISTÓRICO

Quando a fábrica da Botnia, hoje UPM, começou a funcionar, em 2007, a Argentina alegou que ela poluía o rio e causava grandes danos ambientais. Ambientalistas da cidade argentina Gualeguaychú protestaram contra a finlandesa e fecharam por três anos a ponte binacional General San Martín, que liga um país a outro.

A Argentina encaminhou ao Tribunal Internacional de Haia uma demanda argumentando que a antiga Botnia havia sido instalada desobecendo o Tratado do Rio Uruguai e que ela poluía a região. Em sua decisão, a corte admitiu o desrespeito ao pacto, mas não coube nenhuma sanção ao Uruguai. Os argentinos também queriam que a fábrica mudasse de local.

Cristina, que perdeu as primárias obrigatórias para o Legislativo, em agosto, na região de Gualeguaychú, teme passeatas e bloqueios na cidade antes do pleito de 27 de outubro. Por isso, dizem analistas, não cederá facilmente à vontade uruguaia.

SAIA-JUSTA

E visando a eleição Legislativa, Cristina provocou um momento de indelicadeza com Mujica ontem. O presidente uruguaio falava sobre como a nova embarcação Buquebus, que agora ligará as capitais das duas nações em 2h15 min em vez de 3h, atendia a todas as classe sociais.

"Não escapa ninguém, tem para todos, para os de bicicleta e os de Mercedes-Benz", disse Mujica.

E a presidente argentina rebateu: "Seríamos hipócritas se disséssemos que agora qualquer um pode viajar de Buquebus de um lado ao outro. Podem viajar os que têm um determinado nível de vida, um determinado poder econômico. Mas vai chegar o dia em que qualquer um poderá subir em um Buquebus. Até lá temos que seguir trabalhando".

Em outro momento, Cristina citou o discurso anticonsumismo de Mujica na Assembleia da ONU, em Nova York, na semana passada, e afirmou que "o consumo move a economia. Nós precisamos que as pessoas consumam e gastem".


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