Folha de S. Paulo


Dilma defende volta do Paraguai ao Mercosul, mas país cobra vantagens

Após reunião bilateral com o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff fez uma defesa nesta segunda-feira (30) da participação da Venezuela no Mercosul e afirmou que "só uma estratégia em que todos os países ganham" é "sustentável e viável".

Dilma disse também que o Paraguai "está em processo" de retorno ao Mercosul, dentro do tempo deles.

"Reiterei ao presidente Cartes a importância que o Brasil dá à participação do Paraguai no Mercosul. Inclusive, nós consideramos que essa participação do Paraguai no Mercosul tem um significado muito importante nesse momento. E consideramos também que nós sermos capazes de integrar no Mercosul da Patagônia ao Caribe --portanto estou dizendo a Venezuela-- torna a nossa região com um tecido multilateral muito mais forte", discursou Dilma.

Fernando Bizerra Jr./Efe
Dilma Rousseff e Horacio Cartes se reúnem em Brasília; Paraguai pede vantagens e negociação para voltar ao Mercosul
Dilma Rousseff e Horacio Cartes se reúnem em Brasília; Paraguai pede vantagens e negociação para voltar ao Mercosul

"Só uma estratégia em que todos os países ganham é uma estratégia sustentável e viável", completou.

Cartes foi recebido em Brasília com honras de chefe de Estado, numa tentativa de ambos os países de normalizar as relações bilaterais, após crise diplomática que culminou na suspensão do Paraguai do Mercosul por conta do "impeachment-relâmpago" do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo.

O país vizinho ainda não voltou ao bloco por não concordar com a adesão da Venezuela, feita à revelia do país, que, suspenso do Mercosul, não participou da votação pela sua integração. Seu retorno foi o principal assunto em discussão na reunião desta segunda --a terceira entre Dilma e Cartes desde a posse do paraguaio, em agosto passado.

Questionada se o Paraguai sinalizou com retorno ao bloco, Dilma disse que o país "está no processo deles de retorno". "O Brasil tem todo o interesse nessa volta e também no fato que a nossa relação bilateral, como vocês podem ver, nós mantemos intacta. Não houve consequência nenhuma. Tanto é assim, que essa linha de transmissão de US$ 322 milhões [que liga a usina de Itaipu a Assunção] ela está sendo concluída. Fica pronta agora em outubro", disse a presidente.

"Tudo o que ocorreu, não afetou, nós não deixamos que afetasse as relações concretas que existem entre os nossos países. Não prejudicamos em nenhum momento a população do Paraguai. Eu acredito que o presidente Cartes fará muita diferença nesse processo."

'WIN-WIN'

Em seu discurso e em resposta a Dilma, o presidente paraguaio afirmou que o país não entrará em mesas de negociação para perder, mas porque o Paraguai tem atrativos naturais que o tornam decisivo. Em uma fala curta, mas elogiosa à presidente, agradeceu o restabelecimento das relações diplomáticas e apoio na transição de governo.

"Sabemos que temos atrativos para essa integração física. O Paraguai não quer pedir favores, quer sentar em mesas de negociação porque crê que tem atrativos naturais que Deus e a natureza deram ao Paraguai", disse Cartes.

"No momento em que o Paraguai goza de um crédito que a gente não gozava, o Paraguai só quer sentar numa mesa de negociação quando as coisas são úteis para nós, quando há ganha-ganhar, 'win-win'."

DEFICIÊNCIA EM ENERGIA

Pouco depois, durante almoço com a presidente Dilma e autoridades no Palácio Itamaraty, Cartes voltou a agradecer a posição da colega brasileira, mas sem fazer indicativos sobre seu retorno ao bloco.

"Muito obrigado desde o primeiro dia pelo pedido da volta do Paraguai ao Mercosul", afirmou. Após o almoço, Cartes visita ainda o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal).

Durante sua fala, Dilma destacou a importância de uma maior integração entre os vizinhos, afirmando que isso é o "caminho mais seguro", seja em momentos de prosperidade, seja em situações de crise. "Ela permite que nós viabilizemos de forma mais produtiva e eficaz as nossas aspirações, os nossos projetos."

A presidente ressaltou, de forma especial, a parceria energética entre Brasil e Paraguai, lembrando que o país já enfrentou no passado dificuldades nesse setor.

"Eu fiquei muito feliz (...) de saber que a linha de transmissão que permite levar energia de Itaipu até Assunção está pronta agora em outubro e será definitivamente colocada para comercialização em novembro, porque a energia elétrica é condição para o desenvolvimento de regiões", disse.

"Nós sabemos disso porque aqui no Brasil também tivemos momentos de deficiência na questão energética e sabemos o preço que pagamos por isso. Por isso estou satisfeitíssima do resultado das nossas relações ser tão produtivo", completou.


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