Folha de S. Paulo


Saiba mais: Al Shabaab, grupo que reivindicou ataque no Quênia

O grupo militante somali Al Shabaab reivindicou o ataque ao shopping center Westgate, na capital queniana, Nairóbi, que deixou pelo menos 69 mortos e mais de 150 feridos. Saiba mais sobre a organização.

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O que é o Al Shabab?

O Al Shabaab ("A Juventude" em árabe) emergiu como ala militar radical da hoje extinta organização somali União das Cortes Islâmicas, ganhando destaque em 2006 depois de combater tropas etíopes que defendiam o governo somali.

O grupo jihadista ocupou Mogadício por vários meses, até ser expulso da capital por tropas africanas do Uganda e do Burundi, apoiadas pela ONU. Mas ainda controla boa parte da zona rural do sul da Somália e lança ataques suicidas regulares contra a capital.

O Al Shabaab advoga a vertente salafista (de inspiração saudita) do islã; o termo wahabita é mais um clichê terrorista ocidental pejorativo, raramente usado pelos próprios salafistas. Essa prevê a execução por apedrejamento de mulheres acusadas de adultério e a amputação das mãos de pessoas acusadas de furto. A maioria dos somalis é sunita.

De acordo com relatório da ONU publicado em julho, o grupo teria cerca de 5.000 combatentes.

Quem é o líder do Al Shabaab?

A liderança do Al Shabaab tornou-se mais e mais contenciosa nos últimos meses, com o grupo enfrentando a perda de território, a redução de suas fontes de recursos e uma divisão ideológica entre setores com uma agenda mais doméstica e aqueles que querem travar uma jihad internacional. Nas últimas semanas foram relatados vários tiroteios entre militantes.

Ahmed Abdi Godane, também conhecido como Mukhtar Abu Zubair, é o líder recluso e pouco conhecido do Al Shabab que emergiu das disputas internas recentes como o líder dominante e de linha mais dura. Ele é natural de Hargeisa, a capital do território separatista setentrional de Somaliland.

Em 20 de novembro de 2008, Godane foi classificado como terrorista global pelo Escritório de Controle de Ativos no Exterior do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

Seu predecessor, Moalin Aden Hashi Ayro, foi morto em maio de 2008 num ataque aéreo dos EUA.

Quais áreas da Somália são controladas pelo Al Shabaab?

O grupo jihadista conquistou o controle de quase toda a capital, Mogadício, em 2006, e controlou áreas extensas do centro e sul da Somália até 2011, quando uma força da União Africana apoiada pelas Nações Unidas e incluindo soldados do Uganda expulsou seus militantes da cidade.

Apesar de enfraquecido, o Al Shabaab ainda controla faixas da zona rural do sul do país, além de muitas outras áreas rurais da Somália, onde impõe a sharia rígida.

Quais são as conexões internacionais do Al Shabaab?

Enquanto Washington e o Reino Unido concentraram suas atenções sobre o Afeganistão, o Al Shabaab recrutou combatentes no exterior, e em fevereiro de 2012 anunciou uma aliança com a Al Qaeda. Muitos de seus combatentes estrangeiros vêm do Quênia, Uganda e Tanzânia, mas alguns de seus membros são ocidentais.

Hostil a qualquer intervenção ocidental, em 2011 o Al Shabaab proibiu a assistência alimentar nas áreas sob seu controle no sul da Somália e expulsou muitos grupos humanitários, dizendo que a assistência gera dependência.

A Somália também proibiu jornalistas e funcionários estrangeiros de organizações humanitárias de entrar em áreas controladas por insurgentes do Al Shabab, depois de membros da uma entidade humanitária turca terem levado alimentos a vítimas da fome numa área sob o controle do grupo islâmico.

Como o Al Shabaab é financiado?

Um relatório das Nações Unidas estimou a receita do grupo em 2011 em entre US$70 milhões e US$100 milhões, boa parte da qual obtida de impostos portuários, mas a maior parte dessa receita se perdeu desde que o grupo foi expulso de Mogadício e Kismayo, no sul do país, áreas que eram cruciais para sua capacidade de recolher impostos para financiar suas atividades e receber armas e suprimentos.

A ONU vem pressionando países do Oriente Médio a reprimiram um comércio multimilionário de carvão mineral que financia jihadistas somalis ligados à Al Qaeda, violando sanções internacionais.

Por que o Quênia é um alvo do Al Shabaab?

O Al Shabaab atacou o Quênia depois de o governo queniano ter enviado seu exército para a Somália, em outubro de 2011, numa intervenção independente na zona rural do sul do país.

Mais tarde os quenianos foram integrados a uma força da União Africana e apoiada pela ONU, força essa que combate ao lado de tropas etíopes que também combatem o grupo jihadista, a quem acusam de ter lançado uma onde de ataques contra estrangeiros.

O Al Shabaab negou responsabilidade pelos ataques e prometeu retaliar contra o Quênia com ataques com bombas.

Quais foram os ataques recentes do Al Shabab na Somália e países vizinhos?

Enquanto o novo governo somali procura consolidar seus ganhos recentes de segurança, o Al Shabaab vem adotando táticas de guerrilha. Pelo menos 30 pessoas foram mortas em abril deste ano quando o grupo lançou uma onda de ataques coordenados em Mogadício.

Em julho o Al Shabaab reivindicou um ataque com carro-bomba contra a missão da Turquia em Mogadício, que deixou três mortos. Um ataque contra um restaurante lotado deixou pelo menos 15 mortos em 7 de setembro.

No ano passado, homens-bomba atacaram o hotel de Mogadício em que estava o presidente recém-eleito Hassan Sheikh Mohamud, matando oito pessoas. Mohamud saiu ileso.

Tradução de CLARA ALLAIN


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