Folha de S. Paulo


Saiba mais: as opções de Merkel para formar governo na Alemanha

Angela Merkel foi celebrada por conquistar o melhor resultado que seu partido obteve em 20 anos, e por chegar perto de uma maioria absoluta - resultado incomum na Alemanha, onde coalizões são a forma mais comum de governo.

Agora ela enfrenta um dilema: depois do colapso dos Democratas Livres, que pela primeira vez na história do partido não conseguiram vaga no governo, a União Democrata Cristã (CDU) de Merkel ficou sem seu parceiro tradicional de coalizão.

Quais são as escolhas que ela tem, portanto?

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GOVERNO MINORITÁRIO

Teoricamente, a CDU poderia formar um governo minoritário. No entanto, isso forçaria Merkel a enfrentar três partidos de oposição que não perdoariam o menor tropeço do governo - o que nem de longe constitui solução satisfatória enquanto persistir a crise na zona do euro.

Em entrevista coletiva na segunda-feira, Merkel negou categoricamente a possibilidade de um governo de minoria: "Queremos um governo estável".

Veredicto: altamente improvável.

Editoria de Arte/Folhapress

COALIZÃO ENTRE O SPD E O DIE LINKE

Em meio ao entusiasmo quanto a Merkel na noite de domingo, era fácil desconsiderar que os resultados eleitorais, por volta da meia noite, davam a uma coalizão de três partidos de esquerda - os social-democratas (SPD), Die Linke e os verdes - uma maioria de 42,7%, ante os 41,5% da CDU.

No entanto, embora o Die Linke venha apelando repetidamente por uma coalizão como essa, tanto o SPD quanto os verdes a descartam, por enquanto.

Trabalhar com o Die Linke, alguns de cujos integrantes começaram no Partido Comunista que governava a antiga Alemanha Oriental, tornaria a coalizão vulnerável a ataques da direita, e ainda é considerado um tabu na Alemanha.

De qualquer forma, a maioria seria pequena demais para garantir um governo estável.

Veredicto: altamente improvável.

CDU-VERDES

Há apenas seis meses, essa era uma possibilidade muito discutida quanto ao futuro da política alemã. Os verdes selecionaram uma vice-candidata, Katrin Göring-Eckardt, que parecia simbolizar um direcionamento mais conservador e centrista para o partido, deixando de lado o foco em questões ambientais.

Pode-se argumentar que existe uma sobreposição na ênfase de ambos os partidos quanto a Nachhaltigkeit ("sustentabilidade") e o uso responsável de recursos (ambientais, no caso dos verdes; fiscais, no caso da CDU). Em entrevista na noite de domingo, o vice-candidato Jurgen Trittin pareceu expressar abertura quanto a essa opção.

Mas basta ler de passagem os programas dos dois partidos para encontrar a possibilidade de diversos percalços no futuro. Os dois estão muito distantes quanto ao casamento homossexual, à dupla cidadania, à política para as drogas e ao alívio de impostos.

E os verdes certamente recordarão que o abraço de Merkel contém uma maldição: todos os partidos com os quais a chanceler [primeira-ministra] formou coalizão terminaram sofrendo pesadas perdas quando a aliança se desfez.

Veredicto: Improvável mas não impossível.

GRANDE COALIZÃO (CDU-SPD)

Os dois partidos concordam quanto a diversas questões políticas, e o primeiro mandato de Merkel à frente do governo, em coalizão com os social-democratas, foi considerado um sucesso - para ela.

O SPD foi punido por se acomodar demais aos conservadores e terminou com o pior resultado eleitoral de sua história em 2009 - e por isso pensará cuidadosamente antes de repetir a experiência, e pode dificultar as coisas para Merkel.

Em entrevista coletiva na segunda-feira, Merkel confirmou ter conduzido uma conversa informal com o SPD, e declarou que "não descarta levar adiante essa conversa".

Veredicto: provável

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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