Folha de S. Paulo


Ex-lésbica ativista pode se tornar primeira-dama de Nova York

Nova York pode estar prestes a ter uma primeira-dama bem pouco convencional. Chirlane McCray, 58, mulher de Bill de Blasio, candidato do Partido Democrata à prefeitura e visto como favorito, é uma ex-lésbica ativista.

Blasio, 52, lidera as pesquisas para a eleição de 5 de novembro, em que enfrentará o republicano Joseph Lhota.

O democrata é defensor público, uma espécie de corregedor da cidade, que fiscaliza se os nova-iorquinos têm acesso a serviços públicos de qualidade e tenta influenciar políticas públicas.

Nos anos 70, Chirlane militava no movimento radical de lésbicas negras Combahee River Collective. Foi, em 1979, uma das primeiras lésbicas negras a "sair do armário", em uma revista focada em leitores negros -escreveu um ensaio de sete páginas para a "Essence" intitulado "Eu sou lésbica".

"Sou sortuda, porque descobri minha preferência por mulheres cedo, antes de estar presa em um casamento tradicional e ter filhos", escreveu.

Chirlane teve vários relacionamentos longos com mulheres antes de conhecer Blasio, em 1991. Ela trabalhava na comissão de direitos humanos de Nova York, e Blasio era assessor do então prefeito David Dinkins.

Eles se casaram em 1994, em uma cerimônia celebrada por pastores gays, ao som de uma banda folk italiana e bateristas africanos. Têm dois filhos adolescentes.

"Algumas pessoas se identificam como uma coisa ou outra, mas, para o resto de nós, há muita área cinzenta", disse à revista "New Yorker".

Ela é um trunfo para Blasio, que é branco, conquistar o eleitorado gay e negro.

Nas primárias democratas, até entre eleitores gays Blasio derrotou a candidata Christine Quinn, abertamente lésbica e casada com uma mulher. Segundo pesquisa do "New York Times", Blasio recebeu 47% dos votos LGBT, e Christine teve o apoio de apenas 34% dos gays.

"Algumas ativistas ficaram incomodadas com a mudança de McCray, que passou de ativista lésbica para mulher casada com um homem; mas todas ficam felizes por Chirlane não renegar seu passado, e se focam nas posições dela e do marido sobre questões LGBT em vez de se importar porque ela casou com um homem", disse à Folha E. Frances White, professora de estudos sobre negros na Universidade de Nova York.

"Nós entendemos que a sexualidade é muito fluida e mutável", diz Jacqueline Brown, professora de antropologia da City University of New York especializada em questões de raça e gênero. Brown se descreve como "uma lésbica negra que votou em Blasio". "O fato de Blasio ter uma mulher radical e negra mostra que ele deve apostar em políticas progressistas", disse.

Para ela, muitas de suas amigas lésbicas votaram em Blasio porque ele realmente é mais progressista, enquanto Christine Quinn iria só replicar as políticas do atual prefeito, Michael Bloomberg, às quais elas se opõem.

Uma delas é a política de "parar e revistar" -rejeitada por parte dos eleitores, que a consideram racista pelo fato de a maior parte dos "suspeitos" interpelados serem negros ou hispânicos.

Bloomberg argumenta que a política ajudou a reduzir a violência na cidade a níveis historicamente baixos, enquanto Blasio promete acabar com o "parar e revistar", que julga discriminatório.

Na primária democrata, Blasio empatou com um candidato negro, Bill Thompson, entre o eleitorado negro.

"Uma questão interessante é saber o que os negros americanos acham de uma negra que se casou com um branco -estou fascinada porque a comunidade negra não se incomodou com isso e, na verdade, votou em Blasio porque ele cruzou a barreira da raça", disse White.


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