Folha de S. Paulo


Oposição alemã pede que eleitores compareçam às urnas domingo

A três dias da eleição na Alemanha, a oposição social-democrata fez um apelo ontem para que os eleitores indecisos saiam de casa domingo e impeçam a reeleição da chanceler Angela Merkel.

Ela pode ser beneficiada por uma abstenção recorde de até 36%, segundo pesquisa da emissora pública ZDF.

O desinteresse dos alemães pela campanha voltou a ficar claro no último comício em Berlim do candidato da centro-esquerda, Peer Steinbrück. Apesar da presença de artistas, ele só conseguiu reunir cerca de 6.000 pessoas na Alexanderplatz, ponto movimentado da capital.

"Está na mão de vocês mudar o governo. Façam uso do seu direito, saiam de casa para votar", pediu o candidato.

Historicamente, a abstenção prejudica a centro-esquerda alemã, que corre o risco de perder a terceira eleição seguida para Merkel. O SPD (Partido Social-Democrata) montou força-tarefa para caçar eleitores e visitará 900 mil casas até domingo.

"Temos que mobilizar muita gente, porque precisamos de um alto índice de comparecimento", disse o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit.

Ele reconheceu que a economia melhorou ""o PIB alemão avançou 0,7% no segundo trimestre"", mas pediu que a militância ignore as pesquisas que dão favoritismo à rival. "A Alemanha está bem apesar da senhora Merkel, e não por causa dela", disse.

Num discurso duro, Steinbrück acusou a premiê de fazer o pior governo desde a reunificação do país, em 1990, e dar as costas aos países europeus mais afetados pela crise. Ele prometeu ampliar a ajuda alemã ao bloco.

"Se alguém pensa que a Alemanha pode disputar a Copa dos Campeões sozinha, sem seus parceiros europeus, está enganado. Sei que alguns de vocês se perguntam se devemos ajudar os países em crise. Mas houve um tempo em que quem teve ajuda fomos nós", disse, referindo-se ao pós-Segunda Guerra.

Para Steinbrück, a maior economia do continente depende de exportações, e a recuperação europeia ajudará a preservar empregos alemães. Em países como Grécia e Portugal, Merkel é acusada de chefiar a política de austeridade e cortes de benefícios.

Apesar das críticas, o candidato do SPD reconheceu que muitos eleitores não veem diferença entre seu partido e a CDU (União Democrata-Cristã), da chanceler.

Para analistas, isso é efeito dos cortes sociais feitos pelo último governo de centro-esquerda, do ex-chanceler Gerhard Schröder (1998-2005), e do apoio ao primeiro mandato de Merkel (2005-09).

"O SPD tem 150 anos e cometeu muitos erros, mas nenhum deles nos obrigou a mudar de nome. Acreditamos no resgate dos valores da economia social de mercado", defende-se Steinbrück.

Na contramão desse discurso, a centro-esquerda pode ser empurrada para uma nova "grande coalizão" liderada por Merkel, apontou pesquisa do jornal "Bild".

A chanceler lidera, mas não deve ter maioria no Parlamento para manter a atual aliança de centro-direita com o FDP (Partido Liberal Democrático). Nesse caso, o SPD pode oferecer apoio em troca de cargos no futuro governo.


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