Folha de S. Paulo


Oposição diz que Dilma agiu como 'candidata' ao cancelar viagem

A oposição criticou nesta terça-feira a decisão da presidente Dilma Rousseff de cancelar visita de Estado a Washington, no mês que vem, em resposta à espionagem da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) contra autoridades brasileiras. Lideranças do PSDB e do DEM afirmam que Dilma agiu de forma "eleitoreira" e não preservou os interesses econômicos do país.

Provável adversário da presidente nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que seria mais "adequado" à presidente reclamar diretamente com o presidente Barack Obama dos atos de espionagem, mantendo a viagem.

"Essa decisão não me surpreende porque é o marketing que vem governando o Brasil há algum tempo. Era a oportunidade da presidente de ter uma agenda afirmativa em defesa dos interesses do país", afirmou Aécio.

O senador disse que o gesto de "valentia" terá poucas "consequências" efetivas, a não ser prejudicar a economia brasileira. "Havia interesses da nossa balança comercial em jogo. É algo inócuo do ponto de vista do fortalecimento da posição do Brasil."

Os oposicionistas dizem que Dilma tomou a decisão aconselhada pelo ex-presidente Lula e pelo seu marqueteiro, João Santana. "Ela não tem nossa solidariedade nesse gesto, inspirado por seus orientadores de marketing político no contexto de uma campanha antecipada. Era preferível ela dizer isso frente a frente ao presidente Obama", disse o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), líder do PSDB.

Presidente do DEM, o senador José Agripino Maia (RN) afirmou que o cancelamento da viagem pode provocar "ruídos", especialmente nas negociações econômicas entre os dois países. "Não tenho dúvidas de que é algo eleitoreiro. Ela procura chamar a atenção da brasilidade para o suposto ato de coragem dela. Mas que pode provocar ruídos porque podemos não ter avanços em outros setores."

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que a presidente precisa "melhorar as relações com os EUA no campo econômico", mas a opção do governo brasileiro é dar "preferência aos países de terceiro mundo". "Foi uma sugestão do grande marqueteiro Lula, mas que não atende aos interesses do país", disse o tucano.

O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), também criticou a atitude. "O Brasil deve exigir reparação e penalização de quem cometeu espionagem, mas não cabe à presidente adotar um comportamento estritamente ideológico. O país já conviveu com situações como a da Bolívia, quando o presidente Evo Morales saqueou as refinarias brasileiras e o governo não tomou qualquer atitude. Cancelar a viagem soa como retaliação ideológica", disse.

GOVERNISTAS

Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a decisão da presidente é importante para evitar um encontro político contaminado por mal-estar. Para o petista, o cancelamento evita que o país seja colocado em uma situação subalterna.

"Eu concordo com a atitude e avaliava que ela iria suspender. A relação com cada país tem que ser cultuada bilateralmente", disse.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), disse que a presidente teve uma atitude corajosa e estabelece a necessidade de uma nova relação com o governo norte-americano.
"Foi uma decisão importante e corajosa, além de pautar uma nova relação. Ninguém deve temer os EUA. O telefonema não resolveu o problema. Ela suspende a viagem e o diálogo prossegue".

Líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI) afirmou que a decisão de Dilma mostra a posição do Brasil frente às denúncias de espionagem. "Imagina você marcar uma agenda com alguém e ficar sabendo que essa pessoa estava bisbilhotando a sua vida. Ela reagiu com indignação e pediu medidas de segurança para isso não se repetir."

A presidente da CPI da Espionagem do Senado, Vanessa Graziottin (PCdoB-AM), disse que Dilma poderia ser submetida a um "constrangimento" se mantivesse a visita de Estado. "Quando ela estava na Rússia, no encontro do G-20, foi surpreendida com novas informações de espionagem na Petrobras. Claro que isso poderia acontecer quando ela estivesse nos EUA", afirmou.


Endereço da página: