Folha de S. Paulo


Damasco espalhou armas químicas por 50 bases militares, diz jornal

Uma unidade de elite que administra o programa de armas químicas da Síria começou a espalhar o arsenal por pelo menos 50 lugares do país para dificultar a detecção do armamento, informou nesta sexta-feira o jornal americano "Wall Street Journal".

Caso confirmada a informação, a dispersão do arsenal faria com que o regime de Bashar al-Assad leve mais tempo para poder destruir as armas químicas, caso seja mantida a intenção de destrui-las. Também é um risco maior para uma ação militar dos Estados Unidos na Síria.

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Citando parlamentares e integrantes do governo americano, a publicação afirma que as armas são movidas há meses pela chamada Unidade 450 das Forças Armadas, uma das principais nas tropas aliadas ao ditador. As fontes consultadas afirmam que, com isso, EUA e Israel perderam a localização de parte do arsenal.

Os membros do governo americano consultados pelo "Wall Street Journal" estimam que a Síria possui mil toneladas de agentes químicos e biológicos, embora possam ter mais. Tradicionalmente, o armamento era armazenado em poucos lugares no oeste do país, mas começou a ser movido há um ano.

Atualmente, as fontes americanas afirmam que o arsenal foi distribuído em até 50 lugares em todas as regiões da Síria, o que complica os planos dos Estados Unidos de atacarem apenas instalações militares, pois isso poderia liberar gases venenosos para áreas civis.

A reportagem é publicada um dia após o ditador sírio afirmar que entregaria seu arsenal químico, baseado em uma proposta da Rússia apresentada na última segunda (9). Damasco também entregou documentos à ONU para aderir ao tratado contra as armas químicas.

No entanto, Assad condicionou a retirada do armamento ao fim das ameaças dos Estados Unidos. Caso esses alertas terminem, o mandatário afirma que assinará o acordo com a ONU e entregará as armas químicas 30 dias depois.

A proposta de entrega das armas químicas foi feita por Moscou após o secretário de Estado americano, John Kerry, ter afirmado que uma intervenção americana seria evitada se o regime de Bashar al-Assad destruísse seu arsenal.

Os Estados Unidos pretendiam atacar a Síria em represália ao suposto ataque químico que teria ocorrido em 21 de agosto na periferia de Damasco que, para Washington, causou a morte de 1.400 pessoas. Com a proposta russa, a ação armada, que tem forte oposição dos americanos, perdeu força.

REUNIÃO

Nesta sexta, Kerry voltou a se reunir com o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov. Em entrevista, o secretário americano afirmou que os dois pretendem se reunir no fim deste mês em Nova York para marcar a data para uma conferência de paz sobre Síria, que é protelada há quatro meses.

No Quirguistão, o presidente da Rússia, Vladmir Putin, comemorou a decisão síria de aderir à Convenção Internacional para a Proibição das Armas Químicas. Para ele, será um "passo muito importante no caminho para a solução da crise síria".

O russo participa de uma cúpula de uma organização de países, que também tem China e Irã como membros. Na mesma reunião, o mandatário chinês, Xi Jinping, manifestou o apoio de seu país à proposta russa de submeter o arsenal químico da Síria ao controle internacional.

"Estamos dispostos a manter contatos com nossos colegas através do Conselho de Segurança da ONU e a aplicar nossos esforços para conseguir uma regulação política para o problema sírio", disse Xi, citado pela agência "Interfax".

Já o iraniano Hassan Rowhani considerou um bom início para que se alcance a paz na Síria. "O Irã, que é a maior vítima do uso das armas químicas, é contrário à produção, armazenamento e uso de tais armas e defende o fim de todos os tipos de armas de destruição em massa".

Ele fez referência ao uso de agentes químicos pelo ditador iraquiano, Saddam Hussein, durante a guerra Irã-Iraque, na década de 1980. Mesmo com a defesa do fim das armas químicas, a República Islâmica nunca assinou o tratado contra o armamento.


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