Folha de S. Paulo


Assad nega que entregará armas químicas por pressão dos EUA

O ditador da Síria, Bashar al-Assad, negou nesta quinta-feira que esteja entregando as armas químicas sob seu controle pela ameaça de intervenção militar dos Estados Unidos, mas por ter aceitado a proposta russa para a retirada do armamento.

Esta é a primeira vez que o mandatário comenta a entrega dos agentes químicos após Damasco ter aceitado a proposição, na última terça (10). Ele é acusado por países ocidentais de ter usado gás venenoso contra civis em uma área dominada por rebeldes na periferia de Damasco, em 21 de agosto.

Putin diz que ataque à Síria desencadeará 'nova onda de terrorismo'
ONU divulga na segunda relatório sobre armas químicas na Síria, diz França
Dilema sobre ataque contra regime sírio vira tema de cartunistas pelo mundo

Segundo os Estados Unidos, a ação teria causado a morte de 1.400 pessoas, sendo 400 crianças. A denúncia levou o presidente americano, Barack Obama, a ameaçar o regime sírio com uma intervenção militar, que seria votada no Congresso dos EUA nesta semana.

No entanto, a ação armada perdeu força após o secretário de Estado americano, John Kerry, sugerir que a intervenção poderia ser evitada se Assad entregasse as armas químicas. A partir daí, Moscou discutiu a ideia com Damasco, que aceitou a condição.

Em entrevista ao canal russo Rossiya 24, Assad confirmou que colocará sob controle internacional seu arsenal de armas químicas, embora não tenha esclarecido como fará isso. "A Síria está colocando suas armas químicas sob o controle internacional por causa da Rússia. As ameaças dos EUA não influenciaram a decisão".

Ele afirmou que colocará seu arsenal químico à disposição da comunidade internacional um mês após assinar a Convenção Internacional para a Proibição de Armas Químicas. No entanto, condicionou a entrega ao fim das ameaças de ataque americanas.

"Quando percebermos que os Estados Unidos realmente desejam a estabilidade na nossa região e pare de fazer ameaças de um ataque e também deixe de fornecer as armas aos terroristas, consideraremos se podemos continuar os processos necessários até a assinatura do contrato".

Se atendidas as condições impostas, o ditador promete entregar as armas químicas em 30 dias a partir da adesão ao tratado de armas químicas. E negou que as tenha usado contra a população civil e disse que o suposto ataque de agosto foi uma "provocação orquestrada pelos Estados Unidos".

PROPOSTA

Segundo o jornal russo "Kommersant", o plano consiste em quatro etapas. Na primeira, Assad aderirá à Organização para a Proibição de Armas Químicas, que começa com o envio dos documentos à ONU, assim como o ditador afirma ter feito.

Em seguida, deverá revelar a localização de seu arsenal químico e o local de fabricação. O terceiro passo seria autorizar a entrada no país dos inspetores da OPAQ. A etapa final seria a destruição das armas, em cooperação com os inspetores.

Segundo fontes do governo americano, especialistas em armas químicas de Moscou e Washington avaliam a proposição russa nos dois dias de reunião entre Kerry e Lavrov. Para integrantes das delegações, essa pode ser a oportunidade para que seja retomada a conferência de paz sobre a Síria, que é adiada há quatro meses.

Para o chanceler britânico, William Hague, há imensas dificuldades práticas para proteger o armamento e é necessária uma identificação do arsenal. "Precisaremos ter convicção que todas as armas químicas estejam identificadas e seguras, e que não cairão em mãos erradas".

O acordo para a entrega das armas, no entanto, provocou a rejeição da Turquia. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan diz ter dúvidas sobre o cumprimento da promessa. "O regime de Assad não cumpriu nenhuma de suas promessas, tem ganhado tempo para novos massacres e continua fazendo isso".

Já o chefe do Exército Livre Sírio, Salim Idriss, voltou a rejeitar a proposta russa. "Pedimos que a comunidade internacional não se contente com a retirada de armas químicas, que são um instrumento criminoso, mas que responsabilize o perpetrador e o processe no Tribunal Penal Internacional".


Endereço da página:

Links no texto: