Folha de S. Paulo


Putin diz que ataque à Síria desencadeará 'nova onda de terrorismo'

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, criticou os Estados Unidos por defenderem uma intervenção militar na Síria e afirmou que uma ação armada no país árabe desencadeará uma nova onda de terrorismo e expandirá o conflito para outros países do Oriente Médio.

Em artigo publicado nesta quinta-feira no jornal "New York Times", o russo considera que seriam prejudicadas as negociações de paz entre Israel e os palestinos e os esforços para suspender o programa nuclear do Irã, país aliado do ditador sírio, Bashar al-Assad.

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"O potencial ataque dos Estados Unidos contra a Síria, apesar de forte oposição de muitos países e grandes lideranças políticas e religiosas, incluindo o papa, vai resultar em mais vítimas inocentes e escalada, potencialmente espalhando o conflito muito além das fronteiras da Síria".

Ele criticou o presidente Barack Obama por querer impor a intervenção como solução na Síria e citou como exemplos do fracasso americano a intervenção na Líbia e as guerras no Afeganistão e no Iraque, três países instáveis mesmo após ações armadas ocidentais.

"O uso da força se provou ineficiente e sem foco. O Afeganistão está titubeando, e ninguém sabe o que vai acontecer quando as forças internacionais saírem. A Líbia é dividida entre tribos e clãs. Muitos americanos fazem a analogia entre o Iraque e a Síria e se perguntam se seu governo quer repetir erros recentes".

O russo ainda questiona os Estados Unidos por quererem passar por cima do Conselho de Segurança da ONU, o que, para Putin, pode sofrer o mesmo destino na Liga de Nações, que foi extinta após o fracasso em evitar a Segunda Guerra Mundial.

"Temos que parar de usar a linguagem da força. Não queremos o mesmo destino da Liga das Nações, que é possível se países influentes ultrapassem as Nações Unidas e façam ações militares sem a autorização do Conselho de Segurança".

O poder de veto permitiu com que o governo russo, aliado do regime sírio, barrasse duas resoluções contra Damasco, o que levou Estados Unidos, Reino Unido e França a defender o ataque militar mesmo sem aval da ONU.

ATAQUE QUÍMICO

A respeito do suposto ataque químico ocorrido em Damasco em agosto, o presidente russo voltou a dizer que a ação foi provocada por rebeldes para "provocar intervenção por entidades estrangeiras poderosas". Para ele, a oposição quis criar um pretexto para que países ocidentais interviessem na Síria.

Ele também considerou que os insurgentes pretendem atacar Israel e, com a intervenção militar, provocar uma nova onda de terrorismo no mundo. Putin cita como exemplo os diversos militantes de outros países árabes que estão na Síria, em grupos extremistas como a Frente al-Nusra, vinculada à Al Qaeda.

"Mercenários de países árabes estão lutando na Síria e centenas de militantes de países ocidentais e da Rússia também são um tema de profunda preocupação. Eles deveriam voltar aos nossos países com a experiência adquirida na Síria? Isso ameaça a todos nós".

O mandatário negou que esteja atuando a favor do regime de Assad, mas em defesa do direito internacional. "A lei é ainda a lei e ela precisa ser cumprida independente se queremos ou não. Qualquer coisa que esteja fora da Carta das Nações Unidas é inaceitável e constitui uma agressão".

Por fim, criticou Obama por ter dito em pronunciamento que os Estados Unidos são um país excepcional. "É extremamente perigoso incentivar as pessoas a se verem como excepcionais. Há países maiores e menores, que somos diferentes, mas nós não podemos nos esquecer de que Deus nos criou iguais".


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