Folha de S. Paulo


Governo negocia segurança para jornalista que divulgou espionagem

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) afirmou nesta terça-feira (10) que o governo brasileiro tenta encontrar a melhor forma para oferecer proteção ao jornalista Glenn Greenwald, responsável por divulgar os documentos que revelam como funciona espionagem dos EUA em diferentes países do mundo.

A CPI da Espionagem no Senado solicitou proteção ao jornalista norte-americano e ao namorado dele, que vivem no Rio de Janeiro. O ministro não revela, contudo, se Greenwald corre risco. "É uma questão de privacidade e segurança. Estamos procurando a melhor forma [de proteção]", disse Cardozo.

A Polícia Federal resiste em oferecer uma escolta simples com, por exemplo, carros na porta da casa do jornalista. Os federais normalmente dão proteção somente para depoentes especiais, que precisam mudar de identidade e de cidade, ou escoltam autoridades como a presidente da República ou o ministro da Justiça, além de procuradores e juízes ameaçados.

"Uma coisa é a proteção nos moldes ideais que entendemos que deve ser feito, outra coisa é a proteção a partir de um posicionamento da pessoa que não quer proteção integral nos limites que a legislação brasileira autoriza. Por isso que tivemos um diálogo preliminar. Voltaremos a buscar com ele um termo que permita saída para a questão de segurança", explicou o ministro nesta terça.

Segundo Cardozo, a PF no Rio está conversando com o Greenwald e com os senadores integrantes da CPI da Espionagem, que pediram a proteção, para encontrar a melhor forma de oferecer segurança.

Foi o jornalista quem divulgou os documentos vazados por Edward Snowden, o ex-técnico da NSA (Agência de Segurança Nacional) revelando que até a presidente Dilma Rousseff e a Petrobras foram alvo de monitoramento dos EUA.

O ministro disse que o governo espera para esta quarta (11) as respostas do governo norte-americano sobre as denúncias de que a espionagem foi além de questões de combate ao terrorismo.

"Se confirmados os fatos, apontam para uma possibilidade de uso empresarial que é lamentável. O governo americano sempre negou. Vamos aguardar a avaliação da resposta do governo norte-americano para que possamos, então, tomar as medidas certas em relação aos fatos que, naturalmente, precisam ser explicados", disse Cardozo.

PF NA RÚSSIA

Por determinação do próprio ministro, a PF também investiga as denúncias de espionagem. Cardozo não descartou nesta terça a ida dos investigadores brasileiros à Rússia, onde está asilado Edward Snowden, para ouvi-lo. Ponderou, contudo, é uma questão também diplomática e, por ora, o governo tem pressa em saber o que foi monitorado e por que.

"Evidentemente aqueles que estão conduzindo o inquérito policial devem saber o que é melhor para a investigação. É claro que situações dessa natureza exigem tratamento diplomático que não pode ser objeto de desconhecimento do governo brasileiro", disse sobre um possível depoimento de Snowden à PF.

Integrantes da CPI da Espionagem também cogitam a possibilidade de ir à Rússia para ouvir o homem que vazou mais de 20 mil documentos sobre os métodos e equipamentos usados pelos norte-americanos para monitorar diferentes países, entre eles o Brasil.


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