Folha de S. Paulo


França proporá resolução à ONU para Síria entregar armas químicas

O chanceler da França, Laurent Fabius, anunciou nesta terça-feira que o país vai propor uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU para estabelecer as condições para a entrega das armas químicas que estão nas mãos do regime sírio.

O projeto é apresentado um dia após a Rússia sugerir a retirada e a destruição do arsenal químico, o que pode diminuir a tensão provocada pela ameaça dos Estados Unidos de fazer uma intervenção militar. O regime sírio diz estar disposto a entregar o armamento à comunidade internacional.

A proposta russa foi feita após o secretário de Estado americano, John Kerry, dizer em uma entrevista coletiva que o ditador Bashar al-Assad poderia evitar um ataque internacional entregando o arsenal químico, embora não acredite que o mandatário faria isso.

Horas depois, o presidente Barack Obama afirmou que a hipótese é algo "potencialmente positivo", que poderá significar um "avanço". Como resultado, é provável que a votação da autorização para um ataque à Síria, que deve ocorrer na quarta-feira (11) no Senado norte-americano, seja adiada.

Em entrevista coletiva, o chanceler francês afirmou que a resolução proposta terá como base o Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que prevê uma ação militar caso o regime sírio desrespeite a entrega das armas químicas.

O texto ainda condenará o suposto ataque químico de 21 de agosto na periferia de Damasco, que Estados Unidos e França dizem ter sido feito pelas tropas de Assad. Para os americanos, mais de 1.400 pessoas morreram, sendo cerca de 400 crianças. Já a França computa 280 mortes.

Para Fabius, a situação da crise síria melhorou com a proposta russa. "As coisas mudaram desde ontem e para melhor. É preciso apertar a mão que se oferece, mas não cair em uma armadilha. É necessário ser extremamente vigilante para evitar uma manobra protelatória".

Ele considera necessário que os primeiros compromissos sírios "sejam quase imediatos", começando pela adesão do país à Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ). Fabius considerou ainda que a mudança na postura síria foi resultado da firmeza mostrada até agora por parte da comunidade internacional.

RÚSSIA

Nesta terça, a Rússia, que propôs o acordo, afirmou que trabalha com Damasco em um "plano concreto" para a retirada das armas químicas da Síria. O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que a proposta será mostrada em breve à comunidade internacional.

Lavrov considerou que a hipótese de retirada do arsenal químico não é unicamente russa, mas teria surgido durante contatos com os Estados Unidos, através de telefonemas com o secretário de Estado americano, John Kerry.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Dmitry Peshkov, disse também que o controle das armas químicas fez parte da conversa entre os presidentes Vladimir Putin e Barack Obama durante a cúpula do G20.

Em entrevista à agência de notícias Interfax, o chanceler sírio, Walid al-Moualem, disse que o regime de Assad concordou com a proposta porque a iniciativa iria "retirar os fundamentos para uma agressão dos Estados Unidos".

Já a Coalizão da Oposição Síria, principal grupo político rebelde, chamou a medida de manobra política da Rússia. "O último pedido de Lavrov é uma manobra política que está dentro de declarações inúteis e só aumentará o número de mortos e a destruição do povo sírio", disse a entidade, em comunicado.


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