Folha de S. Paulo


Parlamento da Síria pede que Congresso dos EUA vete ataque militar

O presidente do Parlamento da Síria, Jihad al-Laham, enviou nesta sexta-feira ao Congresso americano uma carta pedindo que a intervenção militar no país árabe não seja aprovada. A ação armada deve ser votada pelos legisladores americanos na próxima segunda (9).

A consulta foi um pedido do presidente americano, Barack Obama, que afirma ter provas de que o regime do ditador Bashar al-Assad lançou um ataque com armas químicas contra civis na periferia de Damasco, em 21 de agosto.

Segundo relatório da inteligência americana, a ação deixou 1.429 mortos, sendo 426 crianças, o que poderia ser o pior incidente com armas químicas em 25 anos. A França afirmou que participaria de uma intervenção americana, que também pode receber o respaldo da Turquia e de países do golfo Pérsico.

A agência de notícias Sana informou que o Congresso sírio pediu aos americanos que busquem uma solução diplomática para o conflito, que já dura dois anos e meio."Pedimos que não adotem medidas imprudentes, já que têm o poder de afastar os Estados Unidos do caminho da guerra e colocar no caminho da diplomacia".

O pedido da Síria acontece um dia após a Rússia cancelar o envio de uma delegação a Washington para fazer lobby pela rejeição da ação armada. Moscou descartou a viagem dos parlamentares depois que o presidente da Câmara dos Representantes americana, John Boehner, rechaçar qualquer reunião.

Para o conselheiro adjunto de segurança da Casa Branca, Ben Rhodes, os legisladores russos "não têm nada que contribuir" no debate sobre a intervenção porque a visão russa sobre o ataque ocidental é conhecida. Para o presidente do Parlamento russo, Sergei Narishkin, é um sinal de debilidade americano.

"A negativa de ouvir nossos argumentos mostra que nossos colegas americanos entendem a debilidade de sua própria posição, o que deixa evidente qual é a sua posição sobre o direito internacional".

FALTA DE APOIO

Apesar de ter decidido atacar sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, bloqueado por Rússia e China, o presidente Barack Obama não encontrou até o momento respaldo à intervenção militar na cúpula do G20, que termina nesta sexta em São Petersburgo, na Rússia.

Dos integrantes do grupo, apenas o Reino Unido e a França, que já haviam se manifestado a favor da ação armada, respaldaram as acusações de ataque químico contra o regime de Bashar al-Assad. Os outros países, dentre eles o Brasil, descartam a ação militar sem apoio das Nações Unidas e provas concretas do ataque.

Nesta sexta, a Rússia advertiu os Estados Unidos sobre os riscos de atacar as instalações de armas químicas de Damasco e os resquícios de uma tentativa do regime sírio de construir uma usina nuclear. Para Moscou, isso representaria "uma virada perigosa" no conflito e a propagação do armamento por outros países.

Os russos também enviaram uma solicitação à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para que seja avaliado o impacto de um ataque a um pequeno reator nuclear sírio, que tem 1 kg de urânio enriquecido. A quantidade é pequena para fazer uma bomba atômica, mas pode afetar milhares de pessoas.

Mais cedo, a agência de notícias Interfax informou que mais um navio russo foi enviado ao mar Mediterrâneo, reforçando as defesas na região próxima à Síria. Desde que começou a pressão americana por um ataque ao regime de Bashar al-Assad, Moscou enviou pelo menos cinco embarcações de guerra à região.


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