Folha de S. Paulo


Análise: Potências usam novas estratégias para manter status quo

A "Realpolitik" aplicada pelas potências ocidentais em decadência, lideradas pelos Estados Unidos, perpassa por uma geoestratégia muito bem planejada, a favor do status quo da ordem internacional.

Por um lado, busca-se o domínio da Bacia do Pacífico através da contenção da integração sul-americana por meio do apoio e implementação da Aliança do Pacífico e da forte pressão contra os movimentos políticos anti-sistêmicos na região.

Também fazem parte desta estratégia a reativação da 4ª frota e da permanente presença em território subcontinental (vide Malvinas, Guiana Francesa e Plano Colômbia) e o esforço pela limitação da expansão chinesa e russa ao Pacífico, através da efetiva presença militar em determinados países e das 3ª e 7ª frotas navais dos Estados Unidos.

Por outro lado, as enormes fragilidades político-institucionais nos países do Magreb e Oriente Médio, impulsionadas pela Primavera Árabe, serviram como justificativas às ações de coerção e dissuasão contra alguns países da região que não seguiam a 'cartilha persuasiva' das potências ocidentais.

Estes buscavam novos parceiros geoestratégicos e geoeconômicos, frente a um cenário internacional caracterizado pela ascensão de novos atores, como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e pelo declínio de países do eixo da OTAN, como Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (PIIGS, em inglês), da ZE e da própria União Europeia.

Eis o cenário que está se formando, trata-se da busca desesperada de um modelo de reprodução hegemônico, produzido através do apoio à desestabilização de países não alinhados, das intervenções e guerras cirúrgicas por meio dos ataques preemptivos e preventivos aos catalogados Estados Frágeis.

Os Estados Unidos ainda promovem a contenção de novos atores no cenário internacional, do enfraquecimento de alguns Estados via dependência do Sistema Financeiro e da desmoralização midiática de modelos políticos anti-sistêmicos.

Com isso, implementa uma verdadeira estratégia de contenção por meio do cercamento dos novos atores internacionais --ou seja, um novo "Rimland"-- que se espalha como uma mancha de petróleo aniquiladora aos pequenos países resistentes ao modelo.

Mas que, na verdade, está direcionada a todo o mundo emergente que tem buscado reconstruir as relações de poder em escala internacional.

VITOR STUART GABRIEL DE PIERI, é doutorando em Geografia pela UNICAMP e Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Bolonha, na Itália. Autor de livros no Brasil e no exterior sobre temas de relações internacionais é professor universitário e diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI).


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