Folha de S. Paulo


Congresso dos EUA não tem direito de aprovar ataque à Síria, diz Putin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira que o Congresso dos Estados Unidos não tem o direito de aprovar uma intervenção militar à Síria. Para ele, a decisão deve ser tomada pelo Conselho de Segurança da ONU, onde Moscou tem poder de veto, se não deve ser considerada "uma agressão".

Os legisladores americanos vão avaliar na semana que vem a ação armada no país árabe após proposta do presidente Barack Obama, no último sábado (31). Um dia antes, o governo americano disse ter provas do envolvimento do regime de Bashar al-Assad em um ataque químico na periferia de Damasco.

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Segundo relatório da inteligência americana, a ação deixou 1.429 mortos, sendo 426 crianças, o que poderia ser o pior incidente com armas químicas em 25 anos. Além dos Estados Unidos, a França diz também ter informações sobre o ataque que, para Paris, causou 281 mortes.

Em entrevista nesta quarta, Putin também acusou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, de mentir ao Congresso sobre o papel da rede terrorista Al Qaeda no conflito sírio ao buscar aprovação dos parlamentares dos Estados Unidos para uma ação militar contra Assad.

"O Congresso americano permitiria uma agressão, porque tudo o que está fora das regras do Conselho de Segurança da ONU é uma agressão, a menos que seja em defesa própria. Como todo mundo sabe, a Síria não está atacando os Estados Unidos".

Putin considera uma violação do direito internacional o fato de o Congresso americano autorizar sozinho a intervenção militar. "Agora mesmo, eles se dedicam a legitimar a agressão, enquanto ficamos colados na televisão e esperamos se haverá decisão ou não, quando o que deveríamos fazer é dizer que isso é um disparate".

PROVAS

SAIBA MAIS

Mais cedo, Putin afirmou que autorizaria uma ação armada na Síria apenas se ficasse provado que Assad usou armas químicas contra a população síria e se estas provas forem apresentadas no Conselho de Segurança da ONU.

"E estas [as provas] dever ser convincentes. Não devem se basear em rumores ou informações obtidas por serviços secretos de escutas de conversas. Se tivermos dados objetivos, exatos, sobre quem cometeu esses crimes, então haverá uma reação. Dizê-lo agora, de antemão, seria incorreto, assim não se atua em política".

As denúncias feitas por Estados Unidos e Rússia são baseadas principalmente em informações de fontes de inteligência, organizações não governamentais, ativistas da oposição e escutas telefônicas de militares do governo sírio.

Ele criticou as provas, em especial os vídeos, que afirmou terem sido montados. "Nessas imagens, não se veem os pais dessas crianças, nem médicos. Não há nenhuma mulher", disse.

A Rússia é o aliado mais importante do regime sírio e insiste que o conflito deva ser resolvido de forma diplomática. Moscou também acusa os rebeldes de terem feito o ataque para tentar prejudicar Assad ante os inspetores da ONU, que estavam no terceiro dia de visita ao país quando ocorreu o suposto ataque.

Mais cedo, a agência de notícias Interfax informou que a Marinha russa enviou um navio de interceptação de mísseis para o leste do mar Mediterrâneo, perto da costa da Síria. Moscou diz ser necessária "para proteger o interesse nacional". A embarcação deverá chegar perto da costa síria em dez dias.


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