Folha de S. Paulo


Liga Árabe defende ação na Síria, mas evita falar em ataque militar

Os ministros árabes das Relações Exteriores pediram neste domingo (1) que a ONU e a comunidade internacional "assumam suas responsabilidades" na crise síria, no momento em que vários países planejam bombardear posições do regime, acusado de usar armas químicas.

Reunidos no Cairo, os chanceleres dos países da Liga Árabe exigiram "medidas de dissuasão necessárias" após um ataque químico "cuja responsabilidade recai sobre o regime".

Os ministros exigiram também que os autores desse ataque compareçam ante a justiça internacional, "assim como os outros criminosos de guerra".

Os países árabes exigiram também que "sejam fornecidas todas as formas de apoio solicitadas pelo povo sírio para sua defesa" e reafirmaram "a obrigação de harmonizar os esforços árabes e internacionais para ajudar" os sírios.

A decisão da Liga Árabe não menciona, no entanto, a eventualidade de bombardeios estrangeiros contra a Síria, já que a instituição panárabe, que está profundamente dividida em relação a essa questão, classificada como "ingerência externa" por vários países membros como Egito, Argélia, Iraque e Líbano. Esses três últimos países se abstiveram durante a votação do texto aprovado.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Londres, divulgou ontem a cifra de cerca de 110 mil mortos desde o início do conflito sírio, em março de 2011. As informações sobre as mortes são reunidas, segundo o Observatório, por uma rede de colaboradores internos.

Segundo o levantamento, a maioria das mortes foi entre membros das forças de segurança e milícias pró-regime (45,4 mil). Houve 21,8 mil baixas entre combatentes rebeldes e 40,1 mil entre civis.

AGRESSÃO

O ditador Sírio, Bashar al-Assad, afirmou ontem que seu país "é capaz de fazer frente a qualquer agressão estrangeira, assim como tem feito com a agressão interna".

Em declaração à TV estatal, Assad disse ainda que as "ameaças dos EUA" não farão Damasco abandonar "seus princípios e sua luta contra o terrorismo [em referência aos rebeldes que combatem seu regime]".

Antes de se pronunciar sobre a decisão do presidente dos EUA, Barack Obama, de pedir aval do Congresso americano para atacar a Síria, Assad se reuniu com o iraniano Alaedin Boruyerdi, que preside a Comissão de Segurança Nacional e Política exterior do Parlamento persa.

Boruyerdi afirmou que, em caso de intervenção estrangeira no conflito sírio, "os grandes perdedores serão os Estados Unidos e seus agentes na região, sobretudo a entidade sionista [em referência a Israel]".

O iraniano disse que Teerã "não admitirá complôs estrangeiros contra a resistência síria [à tentativa de derrubada do regime de Assad]".

Em reforço às declarações de Assad, o premiê sírio, Wael Nader al-Halqi, afirmou que o Exército do país está em "máxima prontidão e com os dedos no gatilho para fazer frente a todos os desafios".

O vice-ministro de Relações Exteriores, Faysal Moqdad, afirmou que Obama "parecia confuso e indeciso" quando anunciou que buscaria apoio do Congresso para lançar o ataque.

Um porta-voz do oposicionista Exército Livre da Síria, por sua vez, disse à agência Efe que o grupo planeja uma ofensiva contra o regime, "coincidindo" com eventual ataque americano.

"Demos ordens a todas as brigadas de combatentes para que se preparem e aproveitem essa oportunidade", disse Qasem Saadedin.


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