Folha de S. Paulo


Obama diz que não tomou decisão, mas defende ação 'limitada' na Síria

O presidente Barack Obama afirmou nesta quarta-feira (28) em entrevista à rede pública de televisão PBS que ainda não tomou uma decisão sobre uma intervenção militar na Síria, mas defendeu um ataque 'limitado'.

Segundo ele, uma intervenção "sob medida", e não um compromisso prolongado como no Iraque, poderia ser suficiente para enviar uma mensagem de que o uso de armas químicas não pode ser tolerado.

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"Se estamos falando de maneira clara e decisiva, mas muito limitada, enviamos um tiro de alerta dizendo 'parem de fazer isso', isso pode ter um impacto positivo em nossa segurança nacional no longo prazo", disse.

Obama disse também que as autoridades norte-americanas concluíram que o governo sírio é o responsável pelo ataque da semana passada, e não acreditam que a oposição tenha participado da ação.

O regime de Bashar Al-Assad é acusado de ter usado armas químicas na quarta-feira (21) nos subúrbios de Damasco. Opositores afirmam que cerca de 1.300 pessoas foram mortas, enquanto a entidade Médicos sem Fronteiras fala em 355 mortes, dentre 3.600 civis sírios que foram internados.

Mais cedo, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que tem informações de várias fontes provando que o regime sírio é o responsável pelos ataques, e disse que o uso das armas é "inaceitável e não pode ficar sem resposta".

Assim como os Estados Unidos, principal financiador da entidade, a Otan já havia dito que o uso das armas químicas era um limite no conflito que, se ultrapassado, abriria caminho à ação armada. A aliança ocidental já está envolvida na guerra no Afeganistão e foi responsável pela intervenção na Líbia, em 2011.

REUNIÃO

O Conselho de Segurança da ONU não chegou a um acordo durante uma reunião nesta quarta-feira a respeito de uma resolução sobre a Síria apresentada pelo Reino Unido. Apoiada pelos EUA e pela França, a proposta foi recusada pela Rússia, que não quer debater o tema até que seja apresentado o relatório dos inspetores que estão em Damasco.

O pedido, entretanto, pode ser interpretado como um apelo simbólico, já que a China e Rússia, países que possuem poder de veto, já haviam se posicionado contra propostas críticas ao regime.

A posição da Rússia gerou críticas dos EUA. "Não acreditamos que o regime sírio deveria poder esconder-se atrás do fato de que os russos continuam a bloquear ação sobre a Síria na ONU, e vamos tomar nossa decisão sobre a ação apropriada", disse Marie Harf, porta-voz do Departamento de Estado.

Ela advertiu que Washington "manterá suas consultas e adotará medidas apropriadas nos próximos dias".

O chanceler britânico, William Hague, também admitiu ser "improvável" que o Conselho de Segurança adote o projeto de resolução, e insistiu que é preciso agir, inclusive sem o aval da ONU, diante de um "crime contra a humanidade".

A chanceler alemã, Angela Merkel, elogiou a proposta do Reino Unido e disse que conversou com o premiê britânico David Cameron. Para ela, há provas suficientes da ocorrência de um ataque químico na Síria perpetrado pelo regime, que não pode "continuar impune".

INVESTIGAÇÕES

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse hoje que serão necessários mais quatro dias para investigar o local dos ataques, antes de realizar as análises científicas e elaborar um relatório.

Os especialistas concluíram hoje à tarde seu segundo dia de trabalho, durante o qual visitaram Ghouta Oriental, perto de Damasco.


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