Folha de S. Paulo


Regime sírio esvazia prédios militares em Damasco, dizem moradores

Moradores de Damasco e fontes da oposição disseram na quarta-feira que as forças do ditador sírio, Bashar al-Assad, parecem ter retirado a maioria dos funcionários dos quartéis-generais do Exército e da segurança na região central de Damasco, preparando-se para um ataque militar do Ocidente.

Parece certo que ataques aéreos ou com mísseis, liderados pelos EUA, sejam lançados contra a Síria. Os EUA e seus aliados europeus e do Oriente Médio atribuíram às forças de Assad um ataque, supostamente cometido com gás tóxico, que matou centenas de pessoas na cidade em 21 de agosto.

Unidades do Exército estacionadas nas proximidades da capital confiscaram vários caminhões grandes, aparentemente para transportar armas pesadas para locais alternativos. Mas não foram relatados movimentos importantes de equipamentos militares, possivelmente devido aos combates intensos travados perto de rodovias importantes, disse uma das fontes.

Entre os prédios parcialmente esvaziados estão o edifício do Comando Geral do Estado-Maior, na praça Ummayad, o prédio do comando da Força Aérea, nas proximidades, e instalações de segurança no bairro de Kfar Souseh, na zona oeste. As informações são de residentes da área e uma fonte rebelde do Exército Sírio Livre.

As autoridades militares sírias não falam publicamente sobre movimentação de tropas, e nenhum porta-voz do governo concordou em dar declarações.

O prédio do Estado-Maior, um dos mais importantes QGs militares do país, vem operando com quadro de pessoal reduzido desde que foi alvo de bombas de rebeldes em setembro de 2012.

Mas quase ninguém se apresentou para trabalhar nesse ou nos outros prédios na quarta-feira. As fontes disseram que caminhões foram vistos nas últimas 48 horas nas entradas de vários prédios, aparentemente transportando documentos e armas leves.

"O silêncio é total em Kfar Souseh", disse um residente que vive perto da ala palestina da Inteligência Militar, nesse bairro.

Falando desde um local não revelado na Síria, o general desertor Mustafa al-Sheikh disse que, com base em informações colhidas pelo Exército Sírio Livre, o comando do Estado-Maior foi transferido para um local alternativo nos contrafortes dos montes Antilíbano, ao norte de Damasco.

"Vários comandos estão sendo transferidos para escolas e bunkers subterrâneos. Mas não sei se isso vai adiantar muito para o regime", disse Sheikh.

Outro residente que vive ao sopé do monte Qasioun, situado no meio da cidade e onde ficam as bases das unidades da guarda pretoriana de elite, disse que o som de disparos de artilharia normalmente ouvido diariamente vindo do 105º batalhão da Guarda Republicana não se pôde escutar na quarta-feira.

"Muitos caminhões do exército desceram do Qasioum. Parece que esvaziaram o quartel-general do batalhão 105", disse o morador.

Ativistas na zona leste de Damasco disseram que os quartéis e alojamentos da Guarda Republicana e da Quarta Divisão, perto dos subúrbios de Somariya e Mouadamiya, foram esvaziados, e que os soldados e suas famílias foram para dentro da cidade.

Abu Ayham, comandante em Damasco da brigada rebelde Ansar al-Islam, disse que o Estado-Maior do Exército e a inteligência da Força Aérea foram esvaziados, além de vários quartéis e alojamentos de uso misto da Guarda Republicana e da Quarta Divisão na periferia leste da cidade.

"Para todos os efeitos, as instalações de comando e controle do Exército foram esvaziadas. Antes da ameaça [de ataque ocidental], eles estavam tomando precauções, trabalhando mais nos pisos inferiores. Nas últimas 48 horas os locais foram desocupados."

Tradução de CLARA ALLAIN


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