Folha de S. Paulo


ONU deve esperar relatório sobre Síria para votar resolução, diz Rússia

O governo russo disse nesta quarta-feira que o Conselho de Segurança da ONU deve esperar o relatório dos inspetores da organização que estão na Síria para depois votar uma resolução contra o regime de Bashar al-Assad que daria aval a uma intervenção militar no país árabe.

O texto será apresentado nesta quarta pelo Reino Unido. Os britânicos, junto com Estados Unidos e França, afirmam que estão prontos para fazer um ataque às tropas do ditador sírio em represália ao suposto ataque químico ocorrido na periferia de Damasco, na semana passada.

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A denúncia foi feita por rebeldes, afirmando que áreas dominadas pelos insurgentes na periferia de Damasco foram atingidas por gás venenoso durante ofensiva do Exército sírio, na última quarta (21). Os opositores falam em 1.300 mortes, mas a organização Médicos Sem Fronteiras diz que 355 pessoas morreram.

Em entrevista à agência de notícias Interfax, o vice-chanceler russo, Vladimir Titov, mostrou a oposição russa à proposta e desaconselhou o debate do tema até que seja apresentado o relatório dos inspetores que estão em Damasco.

"Debater sobre uma reação do Conselho de Segurança antes que os inspetores apresentem seu relatório é, para não dizer muito, pouco prematuro".

Mais cedo, o chefe do comitê de Relações Internacionais da Câmara de Deputados russa, Alexei Pushkov, que é aliado do presidente Vladimir Putin, acusou os britânicos de quererem usar o projeto para justificar uma intervenção militar na Síria.

"Querem mostrar que consideram o Conselho de Segurança. É possível prever inclusive os próximos passos. Se a proposta de Londres é recusada, Estados Unidos e Reino Unido vão dizer que têm certeza em seus motivos e na necessidade de atacar a Síria".

RESOLUÇÃO

Apesar da apresentação do texto britânico, Rússia e China podem exercer o direito de veto por serem membros permanentes do Conselho de Segurança. Em outras ocasiões, os dois países barraram a votação de resoluções críticas ao regime de Bashar al-Assad.

Ao anunciar a consulta à ONU, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, se antecipou à oposição trabalhista, que estava disposta a cobrar o aval da entidade amanhã, durante sessão extraordinária no Parlamento que discutirá a crise na Síria.

Na noite de terça-feira, o primeiro-ministro conversou sobre o assunto com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O diálogo, confirmado por Downing Street, sugere que a Casa Branca deu respaldo à estratégia de levar o caso às Nações Unidas.

Nesta quarta, integrantes da ONU pediram que o projeto de intervenção seja submetido ao Conselho de Segurança. O secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, solicitou união dos membros do grupo para atuar pela paz na Síria e disse que este é o momento mais grave do conflito.

Ele voltou a pedir uma solução diplomática à guerra civil, que já dura mais de dois anos. Já o enviado especial à Síria, Lakhdar Brahimi, afirmou que uma ação militar na Síria precisa do aval da ONU, assim como previsto na lei internacional.


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