Folha de S. Paulo


Ex-chanceleres se dividem sobre a postura de Saboia

Ato grave de insubordinação ou escolha louvável diante de uma "situação-limite"?

Mesmo diplomatas mais experientes e ex-chanceleres se dividem quanto à decisão do então encarregado de negócios da embaixada em La Paz, Eduardo Saboia, de trazer, à revelia de Brasília, o senador Roger Pinto, que estava asilado na representação para o país havia 15 meses.

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Para Celso Lafer, chanceler por duas vezes --em 1992 e entre 2001 e 2002--, é preciso avaliar a ação de Saboia diante do que se havia instaurado na embaixada.

"O que ele sentiu é que cabia a ele assumir as responsabilidades, não se ver burocraticamente cumprindo ordens ou deixando de tomar uma atitude que, na sua avaliação, poderia ter consequências graves", opina.

Rubens Ricupero, que foi embaixador em Washington, considera que Saboia agiu "até de uma maneira nobre" e que há "valores que se sobrepõem à hierarquia funcional".

"É raro no Itamaraty funcionários que agem pela consciência", afirma Ricupero.

Para Rubens Barbosa, também ex-embaixador em Washington, foi uma atitude "insólita" pela quebra da hierarquia. "Foi uma atitude arriscada que deu certo."

O ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, porém, classifica o ato como "total insubordinação". "Se no Exército, no Itamaraty ou numa grande empresa cada um fizer o que tem vontade, vira uma bagunça."

Lampreia acredita que a decisão da presidente Dilma Rousseff de dispensar o chanceler Antonio Patriota após o episódio se justifica. "A presidente só vir a saber de uma situação grave como essa mais de 20 horas depois, há algo de errado aí."


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