Folha de S. Paulo


Aécio classifica de 'deplorável' posição do governo sobre fuga de boliviano

Provável adversário da presidente Dilma Rousseff em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) classificou nesta terça-feira de "deplorável" a posição do governo brasileiro no episódio que resultou na chegada do senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil. Aécio disse que o governo Dilma "se curva a conveniências ideológicas" ao punir o diplomata Eduardo Saboia --que articulou a viagem de Molina ao Brasil.

"Ao expor à execração pública o diplomata Eduardo Saboia, o governo brasileiro se curva, mais uma vez, a conveniências ideológicas. Mais grave ainda, abandona as melhores tradições da nossa diplomacia", afirmou Aécio.

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Em nota, o senador disse que o Itamaraty deixou nos últimos anos de se pautar nos direitos humanos e defesa da liberdade para agir de forma ideológica em favor de governos esquerdistas, especialmente o de Evo Morales.

"Nos últimos anos tais valores deixaram de orientar nossa diplomacia, suplantados por uma visão apequenada, míope e distorcida acerca do papel do Brasil no mundo. O peso da ideologia tem vergado a atuação da nossa chancelaria", afirmou o tucano.

Segundo Aécio, Saboia agiu movido "pelos mais elevados valores morais" e por razões humanitárias ao retirar Molina de um asilo que durou 455 na Embaixada do Brasil em La Paz, capital boliviana.

"Ele fez o que qualquer homem de bem faria numa situação como a que ele vinha enfrentando há 15 meses: agiu para permitir que um cidadão perseguido pelo governo da Bolívia, e que há meses obtivera asilo do governo brasileiro, pudesse voltar a viver com dignidade. Eduardo Saboia merece, pois, a nossa solidariedade", afirmou Aécio.

O senador ainda acusa o governo federal de não ter agido para garantir o salvo-conduto do governo boliviano que permitiria a Molina deixar o país em segurança, para ser definitivamente asilado no Brasil.

Aécio faz um retrospecto das relações internacionais do Brasil com países governados por esquerdistas ao lembrar a deportação em tempo recorde de dois boxeadores cubanos durante os jogos Pan-Americanos de 2007, o apoio à tentativa de retomada do poder em Honduras por Manuel Zelaya e a "condescendência" com que a diplomacia brasileira trata o regime cubano e "o bolivarianismo da Venezuela".

"O PSDB manifesta seu irrestrito apoio à defesa da dignidade humana, ao respeito a valores universais do estado democrático e ao direito irrevogável de ir e vir reservado aos cidadãos de bem.E condena de forma veemente a opção escolhida pelo governo brasileiro por curvar-se a interesses menores, não condizentes com nossas melhores tradições diplomáticas", afirma o senador.

Molina, opositor ao governo de Evo Morales, estava há 455 dias refugiado na embaixada do Brasil em La Paz. Segundo Saboia, ele foi retirado da embaixada e veio ao Brasil, no sábado, por problemas de saúde. O diplomata acompanhou o senador em viagem de carro, de 22 horas, da capital boliviana até Corumbá (MS).

Ao chegar em território brasileiro, Molina seguiu para Brasília em avião de um empresário amigo do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

A ação resultou na queda do ministro Antônio Patriota (Relações Exteriores), que foi ontem demitido do cargo. Dilma fez duras críticas à operação, especialmente depois que Patriota disse que o Itamaraty não teve conhecimento da ação conduzida por Saboia.


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