Folha de S. Paulo


Dilma desiste de enviar à Suécia embaixador na Bolívia

A presidente Dilma Rousseff retirou a indicação do embaixador Marcel Biato para assumir a Embaixada do Brasil em Estocolmo (Suécia) depois do episódio que resultou na chegada do senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil. A Comissão de Relações Exteriores do Senado recebeu hoje mensagem da presidente retirando a indicação de Biato.

As indicações de embaixadores têm que ser aprovadas pelo Senado. Biato seria sabatinado pela comissão, que também teria que aprová-lo para a embaixada. Depois, o nome de Biato seguiria para votação no plenário da Casa.

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Com a retirada de sua indicação, fica suspensa a ida do embaixador para a Suécia. A decisão é mais uma resposta de Dilma à operação, conduzida pelo diplomata Eduardo Saboia, que viabilizou a chegada de Molina ao Brasil em um carro da Embaixada do Brasil em La Paz, capital boliviana.

O governo da Suécia já tinha concedido o agrément (autorização) para Biato em junho. Não é comum, no meio diplomático, que a indicação seja retirada depois da autorização do outro governo.

Biato é o embaixador do Brasil na Bolívia, mas entrou de férias uma semana antes do embarque de Molina para o Brasil.

Segundo revelou o Painel da Folha, o governo brasileiro vê Biato como responsável pela vinda do senador boliviano --mesmo sem ter o seu nome envolvido na operação.

O Painel afirma que, segundo assessores presidenciais, foi o ex-embaixador do Brasil na Bolívia quem aceitou o ex-senador na embaixada brasileira e sempre teve relações tumultuadas com Evo Morales.

Além disso, membros do governo dizem que ele teve atuação "deficiente" na libertação dos torcedores corintianos detidos na Bolívia, e o Planalto considerou suspeitas suas férias uma semana antes do embarque do ex-senador.

A ação de resgate de Molina, que estava asilado há 455 dias na Embaixada do Brasil na Bolívia, resultou na queda do ministro Antônio Patriota (Relações Exteriores), que foi ontem demitido do cargo. Dilma fez duras críticas à operação, especialmente depois que Patriota disse que o Itamaraty não teve conhecimento da ação conduzida por Saboia.

Segundo Saboia, ele foi retirado da embaixada e veio ao Brasil, no sábado, por problemas de saúde. O diplomata acusa o governo brasileiro de omissão no caso e, ao ver seu estado de saúde deteriorando, decidiu agir sozinho na missão de retirada.

Além de Saboia, Molina contou com a ajuda do senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da comissão de Relações Exteriores, que levou o boliviano em jatinho particular até Brasília. Partiu de Ferraço o convite para Molina ir ao Senado nesta terça-feira, mas o senador boliviano cancelou a ida depois que Patriota foi demitido do cargo.

CARREIRA

Marcel Biato nasceu em Buenos Aires, na Argentina, no dia 17 de novembro de 1958.

Com família ligada à área diplomática, caso de seu pai --Oswaldo Biato-- e seu irmão --Oswaldo Biato Júnior--, ele entrou no serviço diplomático brasileiro em 1980.

Desde então, assumiu diversos cargos, dos quais se destaca a chefia da Assessoria Especial da Presidência da República (2007).

No exterior, trabalhou nas representações diplomáticas brasileiras em Londres (1987-1990) e em Berlim (1990-1994) e atuou nas negociações de paz no conflito Peru-Equador (1995-1998).

De 1999 a 2002, atuou como conselheiro legal para a missão brasileira nas Nações Unidas.


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