Folha de S. Paulo


Senador boliviano foi proibido de dar entrevistas pelo Itamaraty

O Itamaraty proibiu por escrito, em abril passado, o senador boliviano Roger Pinto Molina de conceder entrevista à imprensa.

A proibição é um dos argumentos levantados pelo senador para justificar sua viagem sem a permissão do governo boliviano de La Paz, na Bolívia, para o Brasil. No entender de seus advogados, o veto à liberdade de expressão não tem amparo na lei.

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"Proibir o asilado de conceder entrevistas e dele exigir que faça um requerimento toda vez que sua saúde precise ser avaliada por um médico são imposições abusivas", escreveu o advogado Fernando Tibúrcio, que representa Molina no habeas corpus que impetrou no STF (Supremo Tribunal Federal).

Pedro Ladeira/Folhapress
Roger Pinto Molina (dir.) acena ao lado de seu advogado Fernando Tiburcio em Brasília
Roger Pinto Molina (dir.) acena ao lado de seu advogado Fernando Tibúrcio Peña, em Brasília

Documento do Itamaraty, datado de abril passado e protocolado em maio pelo senador no STF, em anexo ao habeas corpus, mostra que a proibição de entrevista foi assinada pelo diretor do Departamento da América do Sul 1 do Ministério das Relações Exteriores em Brasília, João Luiz Pereira Pinto.

O Itamaraty informou, no ofício, se basear o artigo 28 da Convenção de Caracas sobre Asilo Diplomático, de 1954. O trecho da lei, contudo, não é específico sobre entrevistas, ao estabelecer: "A autoridade asilante não permitirá aos asilados praticar atos contrários à tranquilidade pública, nem intervir na política interna do Estado territorial".

Na prática, a decisão do Itamaraty impediu que o senador pudesse fazer críticas ao próprio governo brasileiro, já que o parlamentar cobrava uma pressão brasileira sobre a Bolívia para obter o salvo-conduto e deixar a embaixada. Ele entrou na Embaixada do Brasil em La Paz em maio de 2012 e a proibição de entrevistas é datada de abril de 2013.

O pedido de entrevistas recusado pelo Itamaraty partiu de uma equipe de documentaristas formada por três jornalistas, dentre os quais Cláudio Galvão, autor do documentário "Conexão Cuba-Honduras" e apoiador da vinda, ao Brasil, da ativista de direitos humanos de Cuba Yoani Sanchez.

Em ofícios ao Itamaraty e à embaixada, ele pediu acesso ao senador. Sem resposta, também mandou uma carta ao chanceler Antonio Patriota no dia 11 de abril.

Editoria de Arte/Folhapress

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