Folha de S. Paulo


EUA não têm dúvidas que regime sírio usou armas químicas, diz Kerry

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que o governo americano não tem mais dúvidas que o regime sírio de Bashar al-Assad de fato usou "indiscriminadamente" armas químicas na guerra civil no país.

Na última quarta (21), a oposição síria acusou as tropas do ditador Bashar al-Assad de lançar um ataque durante a madrugada sobre quatro cidades da região de Ghouta. Os ativistas sírios afirmam que mais de 1.300 pessoas morreram. Já a organização Médicos Sem Fronteiras diz que 3.600 pessoas foram atendidas com problemas neurológicos causados por intoxicação em hospitais da periferia da capital síria, sendo que 355 morreram.

Chefe da ONU faz reclamação formal sobre ataque a inspetores na Síria
Rússia diz que Ocidente não tem provas de ataque químico do regime

A ação aconteceu três dias após a chegada de inspetores da ONU a Damasco para investigar o uso de armas químicas no país. Há pelo menos outras quatro acusações, feitas pelo regime sírio e a oposição, sobre a aplicação de armamento químico no conflito de mais de dois anos.

Depois de meses sugerindo que havia apenas indícios e crescentes provas do uso, Kerry agora disse não ter mais dúvidas --o que, para muitos, prepara o terreno para uma ação militar americana. Em agosto do ano passado, Obama havia dito que o uso de armas químicas, proibidas em convenção da ONU, seria a "linha vermelha" que a ditadura síria não poderia ultrapassar.

Kerry disse que passou o fim de semana falando com ministros das Relações Exteriores europeus e do Oriente médio sobre o que está acontecendo no conflito sírio.

"O uso de armas químicas desafia qualquer código de moralidade, matando indiscriminadamente civis, é abominável", disse Kerry esta tarde em Washington, no Departamento de Estado.

"O que aconteceu lá vai muito além do conflito em si. O mundo baniu o uso de armas químicas", dizendo que o governo sírio precisa ser responsabilizado pelos seus atos.

Pesquisa do mês passado da rede CNN dizia que 60% dos americanos são contra qualquer envolvimento militar na Síria. Para analistas americanos, Obama sofre de uma "síndrome do Iraque" --ele foi eleito por ter sido contra a guerra promovida pelo antecessor, George Bush, então seria mais cauteloso antes de tomar qualquer iniciativa militar.

MISSÃO DA ONU

Uma comitiva da ONU foi atacada por homens armados nesta segunda-feira (26) quando seguia para investigação no local dos ataques da última quarta, na periferia de Damasco. Os disparos atingiram um dos veículos do comboio, que foi trocado. O regime sírio acusou "terroristas", modo como chama os rebeldes pelos disparos, enquanto a oposição diz que a ação foi cometida por "milícias pró-regime que querem esconder a verdade".

Em comunicado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse que fez um pedido à representante de Desarmamento da organização, Angela Kane, para fazer uma reclamação formal ao regime sírio e à Coalizão Nacional Síria, principal grupo opositor.

A ONU confirmou que os técnicos coletaram alguns materiais no bairro de Mouadimiya e ouviram médicos que trataram as vítimas do ataque no centro do Crescente Vermelho sírio, além de testemunhos de pacientes que se dizem vítimas do suposto ataque.

Editoria de Arte/Folhapress

REAÇÕES

O uso comprovado de armas químicas foi a condição imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para uma intervenção na Síria. Nos últimos dias, autoridades britânicas e francesas têm defendido a ocupação militar como uma forma de dar fim ao conflito.

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, antecipou sua volta do descanso de um feriado para fazer uma reunião com o Conselho de Segurança Nacional britânico sobre a Síria. Tanto Londres como Paris disseram que poderiam ocupar a Síria sem autorização da ONU.

Aliada do regime sírio, a Rússia disse que vai vetar qualquer intervenção e acusou os países ocidentais de querer usar a acusação dos rebeldes como pretexto para invadir o país árabe. "Até agora eles não puderam apresentar essas provas, mas dizem que a linha vermelha foi ultrapassada e não podem perder mais tempo".

Mais cedo, Assad chamou de "insensatas" as acusações sobre o ataque químico e criticou os Estados Unidos por defender uma intervenção militar, que, para ele, estaria "condenada ao fracasso".

"O fracasso espera os Estados Unidos como em todas as guerras anteriores desencadeadas por eles, começando com o Vietnã até os dias de hoje", disse Assad ao jornal pró-Kremlin "Izvestia", em uma entrevista que a publicação diz ter sido realizada em Damasco.


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