Folha de S. Paulo


Mulher de Bo Xilai admitiu que ele sabia de subornos, diz Justiça chinesa

Gu Kailai, mulher do ex-dirigente chinês Bo Xilai, afirmou perante o Tribunal Intermediário de Jinan, no leste da China, que o ex-líder comunista tinha conhecimento do montante dos subornos em espécie vindos de um empresário.

Em sua declaração no julgamento de seu marido, gravada no último dia 10 e revelada nesta sexta-feira pela Justiça chinesa, Gu admite que ela mesmo teria contado a Bo sobre os pagamentos feitos pelo empresário Xu Ming, um "amigo de longa data", a favor do filho do casal, Bo Guagua.

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Bo, protagonista do maior escândalo político vivido na China em décadas, é acusado de ter recebido subornos no valor de US$ 3,5 milhões procedentes de Xu e também do empresário Tang Xiaolin, além de desvio e abuso de poder.

Reuters
Ex-dirigente do Partido Comunista chinês Bo Xilai faz gesto misterioso com os dedos ao comparecer a julgamento em tribunal
Ex-dirigente do Partido Comunista chinês Bo Xilai faz gesto misterioso com os dedos ao comparecer a julgamento em tribunal

Segundo Gu Kailai, que no último ano foi condenada a morte com a possibilidade de comutação de pena em um prazo de dois anos, Xu Ming comprou um ciclomotor elétrico para Bo Guagua, além de ter pagado passagens aéreas à família.

Perguntada se ela teria informado ele sobre o valor total, Gu, após ter se mostrado evasiva, assegurou que Bo "devia saber" o montante total dos presentes recebidos do empresário. Pressionada para que fosse mais precisa, ela respondeu que "sim", teria o informado.

"Elogiei Xu Ming perante Bo Xilai, disse que era um homem confiável, com o qual poderíamos contar para muitas coisas", explicou a antiga advogada.

Bo, por sua parte, ajudou que Xu Ming assumisse o controle do time de futebol de Dalian, a cidade que na ocasião estava sob seu comando, e a comprar um balão.

Nas declarações divulgadas hoje pela Justiça chinesa, Gu também é questionada sobre o fato de Xu ter oferecido a Bo e a sua família um chalé no sul da França, embora, neste caso, a mulher do ex-dirigente tenha se remetido à declarações anteriores sem dar mais detalhes.

No tribunal, Bo Xilai disse que a mulher mentiu e que seu depoimento eram "delírios de uma louca". "Ela mudou muito, está fora de si e mente com frequência".

Para ele, os investigadores aproveitaram a situação mental da mulher para pressioná-la a dizer coisas que o incriminam. "Esse depoimento foi feito sob pressão psicológica e guiado pela esperança de que teria a pena reduzida".

O Tribunal Intermediário de Jinan realiza hoje o segundo dia do julgamento de Bo, que, desde a manhã de ontem, se Justiça das acusações de aceitação de subornos apresentadas contra ele.

Espera-se que, ao longo da tarde de hoje, o tribunal passe a abordar as acusações de desvio de verbas, enquanto as acusações mais substanciais, que se referem ao abuso de poder - seu papel no caso da morte do empresário britânico Neil Heywood, pela qual Gu foi condenada --ficariam para os próximos dias.


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