Folha de S. Paulo


Bo Xilai nega acusações de suborno durante audiência na China

O ex-dirigente chinês Bo Xilai negou ter recebido suborno do empresário Tang Xiaolin, como é acusado no julgamento iniciado nesta quinta-feira na cidade de Jinan por desvio, subornos e abuso de poder.

Em um novo comunicado publicado em sua conta da weibo (espécie de Twitter chinês), o Tribunal Intermediário de Jinan indicou que Bo, que já havia confessado esse crime antes da acusação, fez isso "sem querer".

Julgamento mais esperado na China em décadas começa com gesto misterioso

"Não é verdade que Tang me deu dinheiro três vezes", como figura na folha de acusações, assinalou Bo na transcrição divulgada pelo tribunal.

"Admiti sem querer a acusação de aceitar três vezes dinheiro durante o processo de investigação do Comitê de Disciplina Interna do Partido Comunista", aberto após a evidência dos escândalos em torno do antigo dirigente.

"Disse que queria assumir a responsabilidade legal, mas, na ocasião, minha mente estava em branco e desconhecia os detalhes", explicou Bo no texto divulgado hoje.

Em um texto prévio, também divulgado através da conta do tribunal na Weibo, Bo indicou que esperava que "os juízes pudessem realizar o julgamento de uma maneira razoável e justa, dentro dos procedimentos legais do país".

Embora a imprensa internacional não tenha sido autorizada a entrar na sala do tribunal, as imagens divulgadas pela corte, as primeiras de Bo desde o início do escândalo há um ano e meio, mostram o ex-dirigente vestido com uma camisa branca e calças preta, muito mais magro que o habitual e com um ar de cansaço.

Bo também apareceu barbeado e com um cabelo bem curto, fato que contraria as informações que asseguravam que ele tinha deixado de fazer a barba em sinal de protesto.

Reuters
Ex-dirigente do Partido Comunista chinês Bo Xilai faz gesto misterioso com os dedos ao comparecer a julgamento em tribunal
Ex-dirigente do Partido Comunista chinês Bo Xilai faz gesto misterioso com os dedos ao comparecer a julgamento em tribunal

Entre as acusações contra Bo que foram detalhadas no julgamento de hoje se encontra a de ter recebido subornos no valor de US$ 3,5 milhões entre 2000 e 2012 de dois empresários de Dalian, Tang Xiaolin e Xu Ming.

Bo, segundo a acusação, recebeu estes subornos diretamente ou através de sua esposa, Gu Kailai, e seu filho, Bo Guagua.

A folha de acusações também acusa Bo de ter se apropriado de mais de US$ 800 mil em fundos públicos para um projeto confidencial, além das acusações de abuso de poder "para beneficiar terceiros" entre 1999 e 2006, quando era prefeito e secretário-geral do Partido Comunista na cidade de Dalian e ministro de Comércio.

Entre janeiro e fevereiro de 2012, Bo cometeu uma "série de atos" de abuso de poder como secretário-geral do Partido Comunista da cidade de Chongqing (centro) após ser informado sobre as suspeitas em torno de sua esposa pela morte do empresário britânico Neil Heywood.

O julgamento se desenvolve sob um forte dispositivo de segurança, apesar de dezenas de defensores de Bo terem organizado um protesto a poucos metros da porta principal do tribunal, os quais alegavam com gritos que o julgamento era injusto e tendencioso.

Espera-se que a audiência, presidida pelo juiz Wang Xuguang, tenha uma duração de dois dias, embora o veredicto deva ser anunciado somente em setembro, segundo a televisão estatal CFTV.

Na audiência de hoje, 110 pessoas tiveram acesso à galeria pública do tribunal, entre elas cinco membros da família de Bo, informou a agência de notícias chinesa Xinhua, que não identificou os parentes citados.

Bo, que até março do último ano sonhava em chegar ao Executivo central chinês, se encontra agora no banco dos réus devido ao escândalo iniciado com a morte do empresário britânico Neil Heywood, em novembro de 2011.

Em fevereiro de 2012, a "mão direita" de Bo, Wang Lijun, que cumpre 15 anos de prisão por sua participação no caso, evidenciou o caso ao pedir asilo em um consulado americano e revelar o envolvimento de Gu na morte do britânico, até então atribuída ao excesso de bebidas alcoólicas.

Bo foi destituído em março, e Gu, julgada em agosto de 2012, foi sentenciada a pena de morte, mas com possibilidade de prisão perpétua em dois anos.


Endereço da página:

Links no texto: