Folha de S. Paulo


Especialistas em mídia divergem sobre prisão de brasileiro em Londres

A detenção de David Miranda no aeroporto de Londres levanta debate sobre os limites da lei antiterrorismo britânica e sobre a legitimidade de ações de governos para evitar que "informações sensíveis" sejam publicadas.

Miranda teve a viagem paga pelo "Guardian" e levava documentos que seriam usados em reportagens de seu namorado, Glenn Greenwald.

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Para Jeff Jarvis, professor de Jornalismo da Universidade da Cidade de Nova York, a detenção não dizia respeito à contenção do terrorismo, mas à coerção da imprensa.

"Qualquer informação que eles pensassem que Miranda tinha já estava em cópias em outro lugar. O mesmo vale para a demanda do governo britânico de que o Guardian destruísse o material. O objetivo era intimidar", disse.

Nina Ognianova, coordenadora para a Europa do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), considera a detenção um incidente "incrivelmente perturbador".

"O título profissional de Miranda é irrelevante. Ele participava de uma ação jornalística. As autoridades violaram a liberdade de imprensa", disse. Para ela, é um "absurdo" considerar que o "Guardian" o colocou em risco. "Como alguém poderia supor que um aeroporto seria esse limbo onde não há aplicação de lei [que o protegesse]?"

Por outro lado, o "Financial Times" disse em editorial que a polícia pode argumentar que a detenção de Miranda foi legítima, "dada a escala de ameaça de segurança que os EUA e o Reino Unido enfrentam". O texto diz que Edward Snowden, que vazou dados para Greenwald, violou a lei, mas pondera que os países devem agir proporcionalmente.

Já Dan Hodges, no "Daily Telegraph", se pergunta por que Miranda estaria acima da lei. "Ele não foi parado porque é parceiro de Greenwald. Foi parado porque era suspeito de portar informações classificadas em detrimento do interesse nacional do Reino Unido."


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