Folha de S. Paulo


Governo interino anuncia revisão de ajuda internacional ao Egito

O governo interino do Egito anunciou neste domingo que revisará toda a ajuda financeira recebida de outros países, após a União Europeia dizer que reavaliará a relação com o país. A ação dos países europeus é uma represália aos confrontos entre a Polícia e os islamitas, que deixaram mais de 800 mortos em três dias.

A revisão acontece em meio à preocupação da comunidade internacional com a violência no Egito, iniciada após a retirada do presidente islamita Mohammed Mursi, em 3 de julho. A Irmandade Muçulmana, à qual Mursi é vinculado, se recusou a negociar com os militares que retiraram o mandatário.

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Em repúdio ao que chamou de golpe, convocou manifestações durante os últimos 45 dias e ocupou duas praças no Cairo. Os acampamentos foram desmontados na última quarta (14), em uma ação da polícia que terminou em confronto com os islamitas e levou a um massacre que deixou mais de 600 mortos.

Na sexta (16), a Irmandade convocou um novo ato, chamado "dia de fúria", com novos enfrentamentos que terminaram com 173 mortos. O governo interino afirma ser vítima de uma tentativa de desestabilização do país, chama os islamitas de terroristas e os acusa de terem vínculos com o Taleban e a Al Qaeda.

Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores egípcio, Nabil Fahmy, se antecipou às ameaças de países ocidentais de interromper as ajudas ao país e anunciou que toda a verba recebida de outros países será avaliada.

"A partir dessa revisão, quero determinar o que é útil ou não para nós, as ajudas usadas para pressionar o Egito e se a concessão desses recursos tem boas intenções e credibilidade. Nós não queremos trocar um parceiro por outro, mas queremos continuar a ter relações com outros países, de modo que temos opções".

O anúncio é feito horas após a União Europeia emitir um comunicado dizendo que fará uma reunião nesta segunda (19) com os 28 ministros de Relações Exteriores dos países membros para reavaliar a relação com o Egito.

O bloco pede que o governo interino tenham responsabilidade para determinar o retorno à calma no país. "Os pedidos de democracia e por liberdades fundamentais da população egípcia não podem ser ignorados, muito menos banhados em sangue".

OUTRAS FONTES

A reavaliação acontece após a pressão dos países ocidentais e o aumento da entrada de recursos de outros países, como as monarquias do Golfo. Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos forneceram cerca de US$ 12 bilhões (R$ 28,8 bilhões) desde a queda de Mursi, em julho.

Os recursos são sete vezes maiores que a ajuda militar entregue anualmente pelos Estados Unidos, de US$ 1,5 bilhão (R$ 3,6 bilhões). O presidente Barack Obama não comentou se pretende cortar os recursos, mas suspendeu a realização de exercícios programados entre os dois países, que acontecem de dois em dois anos.

Também foi adiada a entrega de quatro caças F-16 ao Exército egípcio, responsável pela queda de Mohammed Mursi. Washington evitou qualificar a retirada do mandatário islamita como um golpe, pois seria obrigado a interromper a ajuda militar a um de seus maiores aliados no Oriente Médio.

Neste domingo, a situação nas ruas das cidades do Egito é tranquila. Lojas e bancos voltaram a operar, assim como a bolsa de valores, que teve uma queda de 2,5% no primeiro dia útil de operação após o massacre de quarta-feira.

A segurança foi reforçada no Cairo, em especial nas imediações do Tribunal Constitucional, local para onde devem seguir os manifestantes da Irmandade Muçulmana no ato programado para hoje. Na quinta (15), o grupo disse que faria protestos diários durante esta semana em diversas cidades egípcias.


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