Folha de S. Paulo


Filho do líder religioso islamita é morto em "dia da fúria" no Egito

O filho do líder religioso da Irmandade Muçulmana, Mohammed Badie, foi morto durante confronto entre os islamitas e a polícia os protestos de sexta-feira, que foram chamados pela entidade de "dia da fúria". A informação foi confirmada neste sábado pelo Partido Liberdade e Justiça, braço político do movimento.

Ammar Badie, 38, foi um dos dezenas de mortos durante o confronto na praça Ramsés, no centro do Cairo, palco das manifestações de ontem que, segundo o Ministério da Saúde, deixaram 83 mortos e mais de mil feridos. Os islamitas, no entanto, dizem que as mortes passaram de cem.

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Os protestos foram convocados em reação à ação da polícia da última quarta (14) para desalojar ocupações dos islamitas na capital egípcia, que terminou em um massacre com mais de 600 mortos. Os acampamentos foram levantados em protesto à retirada do presidente Mohammed Mursi pelos militares, em 3 de julho.

A agremiação ligada à Irmandade Muçulmana informou que Ammar Badie foi baleado durante o protesto na praça Ramsés, mas não deu mais detalhes sobre a morte. Em julho, ele foi acusado pela Promotoria egípcia de incitação à violência durante protestos, assim como outras lideranças do movimento islâmico.

A morte do filho do líder islamita acontece dois dias após o assassinato da filha de um dos dirigentes do braço político da entidade, Mohammed el Beltagui, na quarta (14). A nova baixa na liderança da Irmandade pode levar ao aumento da violência nos protestos dos islamitas, que convocaram marchas diárias nesta semana.

Ainda não há informações de protestos em andamento neste sábado. Enquanto isso, cerca de 20 islamitas ocupam a mesquita de Al Fath, no Cairo, que foi usada como hospital e necrotério improvisados nos protestos de ontem.

O local é cercado por militares egípcios, que permitiram a saída da maioria das mil pessoas que ficaram dentro do templo durante à noite. Os manifestantes deixaram o prédio escoltado pelos agentes, que controlaram centenas de aliados do governo interino que queriam atacá-los.

A saída ocorreu após negociação com os militares, que entraram no prédio durante a madrugada rompendo barricadas montadas com móveis. Mais cedo, o Ministério do Interior anunciou que prendeu 1.004 "elementos" da Irmandade Muçulmana, que foram acusados de atos de terrorismo durante os protestos.

DEPOSIÇÃO

Os protestos de aliados da Irmandade Muçulmana começaram após a retirada de Mohammed Mursi, vinculado à entidade, da Presidência, em 3 de julho. Mursi foi deposto pelos militares depois de ser alvo de protestos de organizações liberais contra seu governo, acusado de autoritarismo e imposição da lei islâmica.

Desde a retirada, os islamitas convocaram diversos protestos em todo o país contra as Forças Armadas e o governo interino, alegando que foram vítimas de um golpe de Estado. Enquanto isso, Mursi foi mantido preso em um local desconhecido, sem acesso à família ou aliados políticos.

Após pressão da comunidade internacional sobre o caráter ilegal da detenção, o governo interino acusou o mandatário deposto de conluio com o grupo palestino Hamas durante uma rebelião em uma prisão egípcia em meio à revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em 2011.

Em 26 de julho, foi emitida uma ordem de prisão preventiva, com duração de 15 dias. A medida foi renovada na última segunda (12) por 15 dias e na quarta (14), dia do massacre, em 30 dias. No mesmo dia, o governo interino decretou estado de emergência por um mês e toque de recolher no Cairo e em mais dez Províncias.

A administração provisória, comandada pelo presidente Adly Mansour, justifica a ação contra os islamitas dizendo que é vítima de terrorismo. Para tentar controlar os militantes, liberou oficialmente o uso de munição letal contra os manifestantes após o massacre que deixou mais de 600 mortos.


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