Folha de S. Paulo


Egito amanhece à espera de nova onda de confrontos violentos

O Egito amanheceu, hoje, sob o silêncio tenso que antecede os protestos planejados para o início da tarde na chamada "Sexta-feira de Raiva", em repúdio ao massacre em que morreram ao menos 638 pessoas, na quarta-feira (14).

Há previsão de manifestações partindo de mesquitas ao redor da capital, Cairo, convergindo para a praça Ramsés. Com as promessas das forças de segurança de reprimir tentativas de depredar edifícios governamentais, usando munição letal, é esperada para hoje uma nova onda de confrontos violentos no país.

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Devem ser ao todo 28 marchas no Cairo. O grupo de ativistas Tamarod pediu, em rede nacional, que cidadãos tomem as ruas para proteger o povo egípcio dos manifestantes islamitas, em especial impedindo que se repitam os ataques a mesquitas e igrejas. Eles prometem prometer o toque de recolher, estipulado por enquanto para a partir das 21h locais (às 16h, em Brasília).

As Nações Unidas pediram que ambas as partes usem "máxima contenção", diante da perspectiva de ser deflagrada no Egito uma guerra civil. O massacre de quarta-feira está sendo considerado o dia mais violento na história moderna do Egito.

A crise política foi iniciada em 3 de julho, com a deposição do presidente islamita Mohammed Mursi, hoje detido em local desconhecido. Após milhões terem ido às ruas pedindo sua renúncia, diante do fiasco econômico, as Forças Armadas tomaram a si a tarefa de impor uma transição política no país.

CORPOS

Na quinta-feira (15), a reportagem da Folha contou dezenas de cadáveres na mesquita de Imam, conforme familiares velavam seus mortos. O cheiro de putrefação se misturava ao perfume usado para mascarar o odor. Os corpos eram conservados com gelo.

Havia relatos hoje pela manhã, porém, de que o Exército tenta desde a madrugada recuperar os cadáveres e proceder com a burocracia em relação aos atestados de óbitos. Segundo amigos e familiares de vítimas, hospitais têm assinado papéis afirmando que as mortes foram causadas por suicídio.

Editoria de Arte/Folhapress

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