Folha de S. Paulo


Assunção dá 'pista' pró-Mercosul, diz Brasil

O governo brasileiro saiu ontem da posse do presidente paraguaio, Horacio Cartes, sem uma resposta concreta sobre o retorno do país ao Mercosul, mas com "pistas" de que o relacionamento de Assunção com o bloco deve avançar com o novo governo.

"O discurso [de posse] é uma pista. A carta do [venezuelano Nicolás] Maduro também é uma pista", disse o chanceler Antonio Patriota a jornalistas, ao deixar o país. Ele se referia à carta que o presidente da Venezuela enviou, por um emissário, a Cartes, na qual lhe pedia para se reintegrar ao Mercosul.

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Em seu primeiro discurso como presidente, Cartes disse "apostar no fortalecimento dos organismos subregionais, regionais e mundiais" e destacou a importância de "não agravar as diferenças conjunturais".

Andrés Cristaldo/Efe
Presidente do Paraguai, Horacio Cartes acena para Mercosul durante discurso de posse no Palácio de Governo de Assunção
Presidente do Paraguai, Horacio Cartes acena para Mercosul durante discurso de posse no Palácio de Governo de Assunção

"Participamos e participaremos destes organismos para consolidar a democracia, fomentar a integração, a cooperação e a vigência dos direitos humanos", disse.

O Paraguai foi suspenso do bloco regional em junho de 2012, quando os outros Estados membros (Brasil, Argentina e Uruguai) discordaram do impeachment-relâmpago imposto a Fernando Lugo.

Editoria de Arte/Folhapress

Outra pista, segundo Patriota, seria o agradecimento feito, durante o discurso, às presidentes Dilma Rousseff, do Brasil, e Cristina Kirchner, da Argentina, pelas "iniciativas para construir relações prósperas e positivas".

No entanto, sinais de descontentamento também foram dados no discurso.

O presidente José Mujica, do Uruguai, o outro país fundador do Mercosul, não foi citado no mesmo agradecimento feito a Dilma e Cristina. Recentemente, Mujica ironizou a exigência feita por Cartes de que a Venezuela não assumisse a presidência do bloco.

Oficialmente, a suspensão ao Paraguai terminou ontem. Para o Brasil, agora "a bola está com Assunção". A presidência da Venezuela só termina em dezembro.

No caso da Unasul, onde também foi decretado o fim da suspensão do Paraguai, Cartes disse a Dilma que participaria da cúpula do próximo dia 30, no Suriname.

CARTA

O novo chanceler paraguaio, Eladio Loizaga, disse à Folha que não recebeu nem conhece o teor da carta enviada por Maduro -que não foi convidado para a posse. Os assessores próximos a Cartes também não confirmaram o recebimento do documento até a conclusão desta edição.

Se o futuro do Paraguai no Mercosul ainda é uma incógnita, o das relações com o Brasil se mostrou mais promissor. Segundo Patriota, a reunião entre Dilma e Cartes foi "muito boa". Hoje, o pedido de agrément (autorização) para o novo embaixador em Assunção, José Eduardo Martins Felicio, já será entregue.

As relações comerciais também devem ser impulsionadas pelo perfil empresarial de Cartes, que hoje se reúne com empresários de todo o mundo -uma grande parte deles, brasileiros.


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