Folha de S. Paulo


Obama cancela exercícios militares com Egito após massacre

O presidente americano, Barack Obama, anunciou o cancelamento de exercícios militares entre EUA e Egito, previstos para o mês que vem. A suspensão acontece um dia após a repressão violenta das forças de segurança a islamitas que protestavam contra a queda do presidente Mohammed Mursi.

Mursi foi deposto em 3 de julho, mesmo dia em que a Irmandade Muçulmana iniciou dois acampamentos, que foram desmontados na ocupação de ontem. Segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 525 pessoas morreram e 3.717 ficaram feridas em todo o país.

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"Nossa tradicional cooperação não pode continuar enquanto civis estão sendo mortos", afirmou. A operação militar conjunta acontece a cada dois anos. "Ao povo egípcio, quero dizer que essa escalada de violência deve parar".

Ele não anunciou o cancelamento da ajuda financeira de US$ 1,5 bilhão (R$ 3,45 bilhões) que os EUA enviam anualmente ao país, principalmente em armamento americano, mas indicou que "outros passos poderiam ser tomados" se a violência persistir.

O presidente não usou a palavra "golpe" para se referir à derrubada de Mursi em 3 de julho --pela lei americana, a ajuda financeira deveria ser interrompida após a ocorrência de um golpe.

Obama disse que espera esforços de "conciliação nacional" e que o respeito "às mulheres e minorias religiosas" se reestabeleça. Ele fez críticas a Mursi ("eleito democraticamente, mas que não fez um governo inclusivo") e que "milhões, talvez a maioria dos egípcios, queriam uma mudança de curso".

Mursi, membro da Irmandade Muçulmana, ficou apenas um ano no poder, em uma gestão turbulenta, acusado de tentar oprimir minorias e liberdades civis.

Muitos militares atualmente no poder fizeram parte da longa ditadura de Hosni Mubarak (1981-2011), apoiada pelos Estados Unidos --vários generais egípcios são treinados em academias militares americanas.

Mohammed El-Baradei, prêmio Nobel da Paz, que aceitou ser vice-presidente do governo que sucedeu à derrubada de Mursi, renunciou diante da repressão.

O secretário de Estado americano, John Kerry, chegou a afirmar que os militares que derrubaram Mursi "estavam tentando restaurar a democracia". O comentário foi considerado uma gafe até na Casa Branca.

No final de seu pronunciamento, gravado em Martha's Vineyard, onde passa uma semana de férias, Obama pediu que egípcios, pró ou contra Mursi, não culpem os EUA pela situação no país. "São os próprios egípcios que precisam fazer essa mudança. Não há transição democrática que não leve anos e até mesmo algumas gerações".

Editoria de Arte/Folhapress

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