Folha de S. Paulo


Após massacre, Justiça do Egito prorroga prisão de Mursi por 30 dias

A Justiça do Egito prorrogou nesta quinta-feira pela terceira vez a prisão preventiva do presidente deposto Mohammed Mursi, que está detido há mais de 40 dias em uma instalação militar. A prorrogação da detenção acontece um dia após o massacre contra islamitas que deixou pelo menos 525 mortos.

Mursi foi retirado do poder pelos militares em 3 de julho, após intensos protestos de liberais contra o governo, acusado de autoritarismo e de querer impor a lei islâmica. Desde então, ele ficou detido em uma instalação militar desconhecida, sem contato com a família e os aliados políticos.

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A retirada do islamita do poder provocou a revolta da Irmandade Muçulmana, que iniciou protestos pedindo seu retorno à Presidência. Além de manifestações que terminaram com 300 mortos, eles montaram dois acampamentos no Cairo, que foram desmontados ontem na operação policial que terminou em massacre.

O dado da prorrogação da prisão foi divulgado pela agência de notícias estatal Mena. Com isso, Mursi ficará preso até 14 de setembro, dia em que termina o estado de emergência imposto na quarta (14) pelo governo interino.

A prisão do presidente deposto já havia sido prorrogada por 15 dias na segunda (12). Ele foi acusado pela Promotoria do país de associação com o grupo radical palestino Hamas para provocar uma rebelião na cadeia egípcia onde ficou preso durante a revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em 2011.

A acusação foi apresentada em 26 de julho e ocorreu em meio à pressão da comunidade internacional sobre o governo interino para que soltasse o presidente, que havia sido preso sem motivo. Uma das poucas visitantes a Mursi, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, disse que ele estava bem e ciente da crise política.

MASSACRE

Nesta quinta, o Ministério da Saúde elevou para 525 o número de mortos e para 3.717 o número de feridos após o massacre durante a ofensiva policial de quarta-feira. Segundo o porta-voz da pasta, Mohamed Fathalah, 202 pessoas morreram na praça de Rabia al Adawiya, onde ficava o maior dos acampamentos.

A agência de notícias Reuters, no entanto, afirma que só na praça de Rabia al Adawiya foram encontrados 228 corpos, o que pode elevar a estimativa do governo. A Irmandade Muçulmana afirma que o número de mortos chegou a 2.000.

O número de mortos não pode ser confirmado de forma independente, em especial pela quantidade de locais diferentes para onde os restos mortais foram levados. Os confrontos de quarta foram os que tiveram o maior número de mortes no Egito desde a revolta que retirou o ditador Hosni Mubarak, em 2011.

O local só foi desalojado após um sangrento confronto, iniciado pela manhã e que terminou no início da noite, pouco antes do início do toque de recolher decretado pelas autoridades. A medida de força está vigente entre 19h e 6h (14h e 1h em Brasília) em dez Províncias.


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