Folha de S. Paulo


Confrontos levam ElBaradei a deixar Vice-Presidência do Egito

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei apresentou nesta quarta-feira sua renúncia ao cargo de vice-presidente do Egito. A saída de um dos líderes da retirada do presidente Mohammed Mursi, em julho, acontece após a violência durante a operação que desmontou acampamentos de islamitas.

A operação deixou dezenas de mortos e centenas de feridos. As ocupações foram montadas em 3 de julho, mesmo dia em que o mandatário foi retirado do poder pelos militares e detido em local não identificado.

Cinegrafista britânico é baleado e morto durante confronto no Cairo
Após confronto violento, Egito decreta estado de emergência por um mês

A Irmandade Muçulmana, à qual Mursi era ligado, chamou a ação de golpe e se recusou a negociar com as Forças Armadas, que montaram um governo interino, com a participação e respaldo de ElBaradei.

Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Mohammed ElBaradei, em entrevista em 30 de julho; Prêmio Nobel da Paz renuncia à Vice-Presidência após ofensiva violenta
Mohammed ElBaradei, em entrevista em 30 de julho; Prêmio Nobel da Paz renuncia à Vice-Presidência após ofensiva violenta

Em carta-renúncia enviada ao presidente interino, Adly Mansour, ElBaradei disse que "os beneficiários do que aconteceu hoje são aqueles que pedem por violência, terrorismo e os grupos mais extremistas".

"Como você sabe, eu acreditava que havia maneiras pacíficas de encerrar este confronto na sociedade, havia soluções propostas e aceitáveis que nos levariam ao consenso nacional", escreveu.

"Ficou difícil para mim continuar a ter responsabilidade por decisões com as quais eu não concordo e cujas consequências eu temo. Não posso carregar a responsabilidade por um derramamento de sangue."

Editoria de Arte/Folhapress

ElBaradei assumiu o cargo em 14 de julho, após convite do chefe militar Abdel Fattah al-Sisi. Um dos principais líderes da Frente de Salvação Nacional, foi opositor do presidente Mohammed Mursi.

Ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2005, por seu período como chefe da Agência Internacional de Energia Atômica.

EMERGÊNCIA

O pedido de renúncia acontece horas depois de o governo interino egípcio ter decretado estado de emergência por um mês em todo o país e toque de recolher em dez Províncias, incluindo a capital Cairo.

A partir desta quarta, moradores dessas regiões deverão estar em casa às 19h e só poderão sair às 6h (14h de hoje à 1h de amanhã em Brasília).

Segundo o Ministério da Saúde, 149 pessoas morreram e 1.403 ficaram feridas em confrontos em todo o país, sendo o maior número na capital, onde foram desmontados os acampamentos da praça Al Nahda e da mesquita de Rabia al Adawiya.

No entanto, jornalistas e manifestantes islamitas mencionam números maiores. Enquanto a agência AFP diz que 124 pessoas morreram, o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el-Haddad, diz que são mais de 2.000 mortos e 8.000 feridos.

Dentre os mortos, estão o cinegrafista da emissora britânica SkyNews Mick Deane, 61, e a jornalista Habiba Ahmed Abd Elaziz, 26, da emissora Gulf News. Um repórter da agência de notícias Reuters foi baleado na perna.


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