Folha de S. Paulo


Após confronto violento, Egito decreta estado de emergência por um mês

O governo interino do Egito decretou nesta quarta-feira estado de emergência por um mês em todo o país após os confrontos violentos durante a desocupação de dois acampamentos montados por aliados do presidente deposto Mohammed Mursi, no Cairo, que já deixaram dezenas de mortos.

As ocupações foram montadas em 3 de julho, mesmo dia em que o mandatário foi retirado do poder pelos militares e detido em local não identificado. A Irmandade Muçulmana, à qual Mursi era ligado, chamou a ação de golpe e se recusou a negociar com as Forças Armadas, que montaram um governo interino.

Cinegrafista britânico é baleado e morto durante confronto no Cairo
Islamitas queimam igrejas e delegacias em confrontos no interior do Egito

Em comunicado transmitido pela emissora estatal, a Presidência egípcia anunciou que o estado de emergência começará a partir das 16h locais (11h em Brasília) de hoje e durará um mês. O presidente interino, Adly Mansour, também ordenou que os militares deem apoio à polícia para "restaurar a ordem no país".

Além do estado de emergência, foi decretado toque de recolher em diversas Províncias egípcias, que deve começar às 19h de hoje às 6h de amanhã (14h de hoje à 1h de amanhã em Brasília).

Segundo o Ministério da Saúde, 95 pessoas morreram e 874 ficaram feridas em confrontos em todo o país, sendo o maior número na capital, onde foram desmontados os acampamentos da praça Al Nahda e da mesquita de Rabia al Adawiya.

No entanto, jornalistas e manifestantes islamitas mencionam números maiores. Enquanto a agência AFP diz que 124 pessoas morreram, o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el-Haddad, diz que são mais de 2.000 vítimas.

Dentre as vítimas, está o cinegrafista da emissora britânica SkyNews Mick Deane, 61, a jornalista Habiba Ahmed Abd Elaziz, 26, da emissora Gulf News. Um repórter da agência de notícias Reuters foi baleado na perna.

Durante o dia, a Polícia egípcia anunciou a detenção de Mohammed al-Beltagy, um dos principais líderes da organização islamita. Ele apareceu em seguida, em discurso transmitido ao vivo pela televisão, negando sua prisão.

A organização islamita divulgou, porém, a morte de Asmaa, 17, filha de Beltagy. Havia informações de que a mulher e a filha do estrategista Khairat al-Shater, ex-presidenciável, haviam sido mortas também.

"Minha própria filha foi martirizada", afirmou Beltagy. "Todos nós estamos experienciando sacrifícios agora."

Parte da alta cúpula da Irmandade Muçulmana, incluindo o presidente deposto Mursi, está detida. Eles são acusados, por exemplo, de incitar a violência contra opositores.

CONTROLE

A ofensiva das forças de segurança contra os acampamentos incluiu blindados e tratores, para derrubar as tendas erguidas pelos islamitas. Ruas estavam bloqueadas por manifestações desde a deposição de Mursi.

Centenas de pessoas já morreram na violência política que se seguiu à transição de governo no Egito, em meio a uma grave crise econômica. Já era esperado que as forças de segurança desmontassem os acampamentos, após o feriado islâmico de Eid al-Fitr, marcando o fim do mês sagrado do Ramadã.

Imagens transmitidas pela rede Al Arabiya mostravam disparos de gás lacrimogêneo e sobrevoos de helicópteros na região da mesquita Rabia al-Adawiya, onde islamitas estão aquartelados desde o golpe de Estado de 3 de julho.

Houve ação das forças de segurança também na praça Nahda, outro ponto de reunião de manifestação contra o governo interino de Adly Mansur, estabelecido pelo Exército após a saída de Mursi.

Segundo comunicado do governo, houve "máximo auto-controle" no desmonte dos acampamentos de islamitas, refletido no número de mortos em comparação ao número de pessoas "e o volume de armas e violência direcionados contra as forças de segurança".

A comunidade internacional reagiu com críticas. O Reino Unido, por exemplo, condenou o uso de força e pediu moderação às forças de segurança egípcias. "Estou profundamente preocupado com o aumento da violência no Egito", disse William Hague, secretário de Exterior.

Editoria de Arte/Folhapress

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