Folha de S. Paulo


Vitória eleitoral de Mugabe é contestada na Justiça por oponentes

Os oponentes políticos do presidente zimbabuano Robert Mugabe recorreram aos tribunais na sexta-feira (9), para contestar sua vitória na eleição da semana passada e exigir uma repetição imediata da votação.

Os advogados do Movimento pela Mudança Democrática (MDC) apresentaram uma petição ao tribunal constitucional na qual alegam que as urnas foram manipuladas para favorecer Mugabe, 89, e seu partido, o Zanu-PF.

Mugabe, o mais velho dos líderes africanos, venceu a eleição presidencial com 61% dos votos, derrotando confortavelmente o líder do MDC, Morgan Tsvangirai, que ficou com 34%. O Zanu-PF conquistou maioria de mais de dois terços no Legislativo, com 160 assentos diante dos 49 do MDC.

A União Africana e a maioria dos países do sul da África parecem ter aceito o resultado da votação, mas surgiram críticas severas de organizações não governamentais e de governos ocidentais, entre os quais o britânico. Botsuana também pediu que os resultados fossem auditados.

Poucos analistas acreditam que o MDC consiga levar adiante seu caso judicial, no entanto, apontando que os juízes foram indicados por Mugabe e no geral favorecem o partido governante.

Não houve protestos significativos contra o resultado, porque Mugabe mantém domínio férreo sobre o país. Caminhões da polícia de choque, equipados com canhões de água, estão de vigilância na "praça da liberdade", o apelido dado a um espaço aberto no centro da capital, Harare, por partidários do MDC que realizaram lá um comício eleitoral definido como maior da história do país.

O MDC também acusou a polícia de presença agressiva e constante, com vigilância por policiais armados, de sua sede na Harvest House em Harare, descrevendo a situação como "um sinal claro de provocação, com o objetivo de intimidar, causar medo e controlar qualquer dissensão".

"O MDC considera que isso seja um ato aberto de agressão por parte do Zanu-PF, com o objetivo de acobertar a grande fraude eleitoral que a Comissão Eleitoral do Zimbábue (CEZ) orquestrou por ordem do e com a conivência do Zanu-PF", o partido alegou.

"O MDC considera estranho que a polícia e o Zanu-PF estejam usando táticas de intimidação como essas quando o Zanu-PF alega ter vencido as eleições da semana passada. Ficamos a imaginar por que o vencedor teria medo do povo e as ações da polícia confirmam a posição do MDC de que o Zanu-PF usou a CEZ para roubar a vitória do povo", acrescentou o MDC.

"A pesada presença da polícia na Harvest House claramente indica que o Zanu-PF está escondendo alguma coisa", concluiu o partido.

Na quinta-feira, a comissão eleitoral do Zimbábue admitiu que cerca de 305 mil pessoas haviam sido impedidas de votar e que outras 207 mil haviam "votado com assistência" - supostamente pessoas analfabetas ou enfermas que recorreram à ajuda dos funcionários eleitorais para preencher suas cédulas. Mas a organização insistiu em que os erros não aconteceram em número suficiente para influenciar o resultado.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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