Folha de S. Paulo


Folha acompanhou a trajetória de Ronald Biggs

O famoso assalto ao trem pagador de Glasgow (Escócia) completou 50 anos nesta quinta-feira (8). Em 1963, por volta das 3h, um comboio seguia para Londres levando uma centena de sacos com 2,6 milhões de libras (mais de 40 milhões de libras ou R$ 112 milhões, em valores atuais) quando se deparou com um sinal vermelho (falso), e parou.

Uma gangue de 16 homens rendeu os condutores e desatrelou os vagões de passageiros, partindo só com os carros que continham o dinheiro. Cerca de um quilômetro adiante, transferiram os sacos para jipes e fugiram.

Apesar de tido como um crime perfeito à época, 15 membros da gangue foram identificados a partir de impressões digitais deixadas no esconderijo que ocuparam após o assalto. O mentor do grupo, Bruce Reynolds, ficou foragido por 5 anos até ser preso em 1968. Ele cumpriu pena de dez anos e morreu em fevereiro último.

Embora nenhum dos membros tenha conseguido usufruir do dinheiro roubado, um deles alcançou fama mundial: Ronald Arthur Biggs, um velho conhecido dos brasileiros. Após o crime, ele foi para a prisão de Wandsworth, em Londres, onde ficou 19 meses antes de fugir em julho de 1965.

Biggs passou por França, Austrália, Panamá e Venezuela antes de desembarcar no Rio de Janeiro em março de 1970. Sua primeira mulher, Charmain, escreveu um depoimento na época , publicado pela Folha em maio daquele ano.

Em 1974, jornalistas ingleses descobriram que Biggs estava no Brasil, e a Scotland Yard veio ao Rio prendê-lo. A Justiça brasileira decidiu deportá-lo, mas então descobriu-se que sua namorada, Raimunda de Castro, estava grávida --o pai de um brasileiro não poderia ser enviado para a prisão na Inglaterra.

Biggs passou a morar no Rio com seu filho Michael - o Mike do grupo infantil Balão Mágico -, em Santa Teresa. A não ser pelo assédio da mídia e por um sequestro em 1981, viveu em paz por mais de 30 anos.

Em 2001 decidiu render-se à polícia britânica e foi preso novamente, aos 71 anos. Biggs vendeu os direitos de exclusividade da cobertura de sua rendição ao tabloide inglês "The Sun", que fretou um jato para levar o criminoso de volta ao país natal. Ele cumpriu pena até 2009, quando as autoridades decidiram soltá-lo por conta de seu precário estado de saúde.

Biggs adquiriu status de celebridade e seu mito foi explorado pelo historiador inglês Peter Burke em artigo publicado no extinto caderno "Mais!", em 1998, no qual o compara a Lampião. A última entrevista coletiva de Biggs ocorreu em 2011, quando disse que só voltou a Londres por razões financeiras, e admitiu: "Estaria feliz no Brasil".

Editoria de Arte/Folhapress

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