Folha de S. Paulo


Psiquiatra elogia demolição da casa de Ariel Castro

O psiquiatra Frank Ochberg, que atuou na investigação e no julgamento do sequestrador Ariel Castro, elogiou a demolição da casa em que o sequestrador aprisionou e estuprou as três mulheres por dez anos, em Cleveland.

O imóvel foi demolido na manhã desta quarta-feira (7) em uma iniciativa interpretada como estímulo à recuperação das vítimas.

"Foi uma boa ideia do promotor Timothy McGinty, que foi além do seu papel, pois é uma medida que traz significados transformadores para as vítimas e a comunidade. E não estamos falando de vingança", disse à Folha o psiquiatra.

O cativeiro, de onde Amanda Berry, 27, escapou em maio --chamando a polícia para resgatar Gina DeJesus, 23, e Michelle Knight, 32-- ganhou a referência de "Casa dos Horrores" pela mídia americana.

Angelo Merendino/AFP
Escavadeira demole segundo andar da casa de Ariel Castro, cativeiro das três mulheres sequestradas em Cleveland
Escavadeira demole segundo andar da casa de Ariel Castro, cativeiro das três mulheres sequestradas em Cleveland

A destruição do imóvel faz parte de um acordo assinado por Castro, 52, para se livrar da pena de morte, em troca de prisão perpétua.

Especialista em Síndrome de Estocolmo, fenômeno que liga reféns a agressores, Ochberg diz que não é possível avaliar com precisão se esse tipo de relação se estabeleceu neste caso.

"Pode ter havido uma parte dessa infantilização não racional a que o capturado é submetido quando o captor lhe oferece nutrição e condições de sobrevivência, como uma mãe e seu bebê, mas não podemos garantir."

Michelle Knight, a única que esteve presente na última audiência de Castro na semana passada, também visitou a avenida Seymour ontem. Voltar à cena do crime foi uma atitude coerente com seu papel no período de cativeiro, segundo Ochberg.

"Knight fez grandes contribuições lá dentro, como o parto da filha de Berry [criança nascida no cativeiro, que testes de DNA provaram ser de Castro]. Ela agora tem vindo a público em sacrifício de sua privacidade."

Para o especialista, as vítimas podem levar décadas ou a vida toda para escapar das lembranças dos abusos sofridos no local, memórias que também podem retornar por meio de sensações táteis ou olfativas.

Um crime de características semelhantes revelado também em Cleveland em 2009, em que o condenado a pena de morte Anthony Sowell estuprou, matou e enterrou dez mulheres em sua própria casa, teve o mesmo desfecho. Até hoje, porém, não foi construído no local o parque ou jardim prometidos na época, o mesmo investimento esperado para o terreno da 'Casa dos Horrores' de Castro.


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