Folha de S. Paulo


FHC elogia Mujica, mas diz que projeto da maconha não cabe no Brasil

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou nesta terça-feira (6) o projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados no Uruguai que legaliza o uso da maconha no país. Ele afirmou, porém, que o modelo, a ser analisado ainda no Senado, não pode ser copiado pelo Brasil.

"O Uruguai é um país pequeno. Eles assumiriam a produção", disse FHC, após seminário na ABL (Academia Brasileira de Letras). FHC faz parte da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, que defende a mudança na legislação de drogas no mundo.

Grama da maconha no Uruguai será vendido a R$ 5,7

"Foi um gesto corajoso. O presidente Mujica é um homem de visão. Cada país tem seus problemas. Num país pequeno, onde o problema da maconha era sério, ele achou melhor em vez de ficar na mão do contrabando, ele oferecer. Não é fácil. Não é uma decisão que se possa transferir para todos os países, mas mostra pelo menos que não é pela repressão que se resolve", disse ele.

O ex-presidente diz que o principal entrave para a mudança da lei no Brasil são parlamentares da bancada evangélica. Mas, segundo ele, é possível convencê-los de que a descriminalização não vai aumentar o consumo da droga.

"É um problema. Mas tem que haver um diálogo. Depende da capacidade daqueles que acreditam que o caminho é outro explicar qual é o caminho. O medo dos evangélicos é que se abra as portas para as drogas e o crime. É o contrário. É uma maneira mais inteligente de reduzir o uso. Se a consciência nacional entenderem qual é o caminho, eles vão também. Se não forem, perdem."

O projeto prevê que, após serem registrados, os usuários possam comprar até 40 gramas de maconha por mês em farmácias, além de permitir o cultivo para consumo próprio da erva.

Daniel Marenco/Folhapress
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro
Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro

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