Folha de S. Paulo


Berlusconi defende reformas no judiciário para manter coalizão

Um dia após a condenação em última instância por fraude fiscal, Silvio Berlusconi voltou a falar em reformas da justiça durante reunião do PDL (Povo da Liberdade), em Roma, nesta sexta-feira (2), na qual foi bastante ovacionado.

Segundo participantes, o ex-premiê disse que o partido não pode "fugir do dever de uma verdadeira reforma da justiça", condição para que a coalizão política seja mantida.

"A centro-direita italiana deve pressionar o governo por uma reforma do sistema judicial ou então buscar novas eleições", disse ele, de acordo com uma fonte presente.

Partidários do político conservador garantiram que não abandonarão o governo, embora a condenação de Berlusconi por fraude fiscal tenha deixado por um fio a coalizão do governo com o Partido Democrático (PD), do atual primeiro-ministro Enrico Letta.

Mais cedo, agências de notícias chegaram a noticiar pedido de renúncia de parlamentares em protesto à condenação, mas que não ocorreram por enquanto.

O primeiro-ministro Enrico Letta disse estar certo de que os "melhores interesses" da Itália vão prevalecer sobre disputas partidárias. E acrescentou que tem certeza de que "todos os partidos" vão fazer a coisa certa.

"Estamos em uma situação em que cada um tem que assumir responsabilidades pelo melhor interesse do país."

Apenas três meses após a posse de Letta, de centro-esquerda, que lidera a aliança com o PDL de Berlusconi, a terceira maior economia do euro encara um futuro incerto que pode dificultar suas reformas econômicas.

CONDENAÇÃO

Berlusconi reagiu com irritação à decisão da Suprema Corte italiana de rejeitar o último recurso contra sua condenação. O ex-premiê insistiu na sua inocência e disse que é perseguido por juízes desde que entrou para a política, há 20 anos.

A condenação diz respeito à acusação de que o conglomerado de mídia Mediaset, de Berlusconi, superfaturou direitos de transmissão televisiva, como parte de uma fraude tributária.

Após dezenas de processos por acusações variadas de sonegação fiscal a crimes sexuais-, essa é a primeira vez que Berlusconi sofre uma condenação definitiva.

"Ninguém pode entender a verdadeira violência direcionada contra mim", disse, em um vídeo transmitido pela TV após o veredicto. "É uma genuína campanha de acusação que não tem igual".

Ele não será preso em razão de sua idade (76 anos), mas deverá escolher entre prestar serviços comunitários ou permanecer em prisão domiciliar. A corte determinou que a sentença original seja revista no seu trecho que previa a cassação dos direitos políticos do réu.

A conclusão do processo representa uma derrota sem precedentes para um homem que durante duas décadas dominou a política italiana.

Berlusconi disse que vai continuar na política, por meio do "Forza Italia", nome do seu primeiro partido, que criou nos anos 90.

Ele não fez, no entanto, nenhuma menção ao futuro da coalizão com Letta.


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