Folha de S. Paulo


EUA ameaçam cancelar cúpula com Rússia por asilo a Snowden

O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse nesta quinta-feira que os Estados Unidos estão "extremamente decepcionados" com a Rússia pela concessão do asilo diplomático para Edward Snowden, delator do esquema de monitoramento feito pelos Estados Unidos.

Em sua entrevista coletiva diária, o representante do governo americano disse que o abrigo ao delator, que é procurado pelos Estados Unidos por roubo e espionagem, mina a relação de cooperação com a Rússia para o cumprimento das leis.

"Nós vemos isso como um acontecimento infeliz e estamos obviamente extremamente decepcionados por causa disso".

Carney declarou também que, após a decisão de Moscou sobre o destino de Snowden, Washington reavalia a necessidade de uma cúpula entre Obama e o presidente russo, Vladimir Putin. Inicialmente, o encontro estava marcado para setembro em Moscou.

O governo russo ainda não se manifestou oficialmente sobre o tema. Mais cedo, o ex-embaixador russo em Washington, Yuri Ushakov disse que o caso era insignificante e que não afetaria a relação entre os dois países. "Nosso presidente expressou esperança muitas vezes que isso não afetará o caráter de nossas relações".

Com o asilo, Snowden consegue entrar na Rússia após 39 dias morando em um hotel na área de trânsito de Sheremetyevo. Nesse período, ele pediu asilo a mais de 30 países, incluindo o Brasil, mas só havia conseguido permissão de Bolívia, Venezuela, Equador e Nicarágua.

Os quatro países ofereceram abrigar Snowden em represália ao bloqueio do avião do presidente boliviano, Evo Morales, por Portugal, Espanha, França e Itália, quando ele voltava de Moscou. Os quatro países suspeitaram que o informante estivesse a bordo.

DELATOR

Snowden, 30, trabalhava para a Agência de Segurança Nacional americana (NSA, sigla em inglês) como funcionário terceirizado da empresa Booz Allen Hamilton. Ele revelou detalhes sobre programas de espionagem à mídia britânica e norte-americana, que publicaram as informações no início de junho.

A NSA, cujo material foi divulgado por Snowden, é uma das organizações mais sigilosas do mundo. De acordo com as informações apresentadas pelo delator, a agência monitorou os registros de ligações de milhões de telefones da Verizon, segunda maior companhia telefônica dos EUA.

Também foram verificados dados de usuários de internet de todo o mundo em empresas de internet como Google, Facebook, Microsoft e Apple. O escândalo causou críticas ao presidente Barack Obama, que combateu a espionagem feita pelas agências quando fazia oposição ao republicano George W. Bush.

As denúncias também causaram irritação de governos de diversos países, incluindo o Brasil. A NSA manteve em Brasília uma de suas centrais de seu programa de vigilância, o que provocou protestos e críticas do governo federal.

Devido às denúncias, o governo brasileiro estuda exigir às maiores empresas de internet que mantenham seus centros de processamento de dados no país, a fim de aumentar o controle sobre a informação que pode ser acessada pelo governo americano.


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