Folha de S. Paulo


Histórica, libertação de 'anciões do Fatah' deve reabrir negociações de paz

O governo israelense aprovou ontem, em decisão histórica, a libertação de 104 prisioneiros palestinos detidos desde antes da implementação dos Acordos de Oslo, de 1993.

A medida foi votada pelo gabinete de Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e venceu por 13 votos positivos, sete negativos e duas abstenções.

A soltura dos apelidados "anciões do Fatah", detidos há mais de 20 anos em prisões israelenses, é uma importante demanda da liderança palestina e, assim, serve de gesto de boa-vontade diante do prospecto da renovação das negociações de paz.

É esperado que Tzipi Livni (ministra da Justiça de Israel) e Saeb Erekat (negociador-chefe palestino) se reúnam amanhã em Washington para, com intermediação dos EUA, iniciar as conversas entre ambas as partes -interrompidas desde 2010.

De acordo com o jornal israelense "Haaretz", Netanyahu telefonou anteontem aos ministros que se posicionavam contra a medida de soltura. Ele teria insistido que não há alternativa a não ser ceder nesse ponto.

Estima-se que haja mais de 4.700 palestinos detidos em Israel, ao menos 169 deles em regime de detenção administrativa -o que significa que podem ser mantidos presos sem acusação formal por período indeterminado.

Foi apresentado também ontem ao gabinete um rascunho de lei a ser votado pelo Parlamento nesta quarta-feira, estabelecendo que qualquer acordo de paz terá de ser aprovado por referendo.

FRONTEIRAS
Haverá, além dos prisioneiros, outros temas controversos caso as negociações realmente sejam levadas adiante, principalmente a questão das fronteiras de um futuro Estado palestino. Israel reluta em reconhecer o território anterior à Guerra dos Seis Dias, de 1967, demanda-chave da liderança palestina.

A libertação dos prisioneiros irá ser realizada em quatro etapas, a começar pelas próximas semanas. A última parte do processo ocorrerá após nove meses, data prevista para a conclusão da tentativa de negociação de paz.

O grupo de prisioneiros a serem libertados inclui árabes-israelenses, que serão os últimos a ser soltos. Houve resistência nesse ponto, já que o governo israelense insistia em não poder abranger cidadãos israelenses em suas negociações com os palestinos.

Os 104 detentos incluem, também, nomes de forte apelo ao público, incluindo Muhammad Tus, responsável pelo assassinato de cinco israelenses. Haverá um período para que familiares apelem ao governo contra a soltura.

"Nos perguntamos se os israelenses não vão hesitar depois do protesto das famílias das vítimas", diz à Folha um funcionário ligado ao Ministério de Prisioneiros da Autoridade Nacional Palestina.

Para essa fonte, que prefere não divulgar o nome, "a decisão israelense, se implementada, envia uma mensagem positiva aos palestinos de que as negociações podem ter resultados".

Ao contrário, diz, dos mais de mil prisioneiros libertados em 2011 após acordo entre a facção militante palestina Hamas e o governo israelense, em troca do soldado sequestrado Gilad Shalit.

"Os prisioneiros não serão soltos devido a um sequestro, mas a um acordo entre duas partes."


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